Ciência transformadora

Vai, Carolina!

Gabriela Buranelli, ex-aluna de Jornalismo da Unifran, defende mestrado sobre a escritora negra Carolina Maria de Jesus

Sergio Nascimento

Foto acima: Gabriela em momento de comemoração, pela conclusão de pesquisa que analisou manchetes de jornais sobre a escritora, que passou por Franca (Acervo pessoal)

“As formulações para Carolina Maria de Jesus e Quarto de Despejo: interpretação e efeitos de sentido das designações em manchetes de jornais”. Este foi o tema do mestrado de Gabriela Moreira Buranelli, ex-aluna de Jornalismo da Unifran, no programa de Pós-Graduação em Linguística da  universidade. A defesa foi realizada no dia 9 de março, com banca composta pela orientadora do trabalho, Profª Aline de Azevedo Bocchi, além de outras duas docentes:  Luciana Garcia Manzano, também da Unifran, e Gloria França, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Gabriela começou a graduação em 2015 na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). No ano seguinte, se transferiu para a Unifran, onde conheceu a professora Marilia Giselda Rodrigues, que convidou a estudante a pesquisar a história de Carolina, por meio do programa de iniciação científica.

Foram dois anos de estudos, até que Gabriela teve a oportunidade de continuar na temática no Projeto Experimental de Conclusão de Curso (TCC), produzindo um documentário sobre a vida e obra de Carolina com os amigos Carolina Castro e Pábolo Oliveira. “Foi a oportunidade de continuar falando sobre Carolina de Jesus, levar o nome dela para mais pessoas, já que ela não tem muito reconhecimento”. Durante o trabalho, desenvolvido ao longo de um ano, costumava usar, nas redes sociais, a expressão “Vai, Carolina”, justamente para incentivar o reconhecimento dos escritos da autora.

Gabriela com Marília, que apresentou Carolina na iniciação científica (Foto: Acervo pessoal)

Mas o projeto, que se chamou “O quarto de Carolina”, orientado pelos professores Igor Savenhago e José Augusto Reis, traria ainda outras possibilidades. Uma delas foi o contato com a filha de Carolina, Vera Eunice, e com outros pesquisadores sobre literatura. Os estudantes também levaram o nome de Carolina a palestras em escolas, não só de Franca, como também Batatais, Sacramento-MG, cidade natal da escritora, entre outras.

Carolina Maria de Jesus foi uma das primeiras negras a ter livro publicado no Brasil. Catadora de papel e moradora de favela, narrava as dificuldades da vida em folhas de cadernos que encontrava no lixo. Até que, na década de 1950, esse material foi descoberto pelo jornalista Audálio Dantas, que fazia uma reportagem sobre o crescimento da favela do Canindé, onde Carolina vivia com os filhos. Ele decidiu ajudá-la a organizar o material, que deu origem ao primeiro livro, Quarto de Despejo, lançado em 1960 e considerado a obra mais importante dela. Outras viriam depois, mas não com a mesma repercussão.

Antes de chegar a São Paulo, porém, Carolina, que nasceu em Sacramento em 14 de março de 1914, neta de escravos e de uma lavadeira muito pobre, passou por cidades do sul de Minas e do interior paulista, como Uberaba, Franca, Orlândia e Ribeirão Preto, até se estabelecer na capital paulista em 1947, onde construiu o próprio barraco na favela do Canindé. Foi parar lá quando o governador Adhemar de Barros mandou recolher mendigos e colocá-los num terreno perto do rio Tietê.

Para Gabriela, o mestrado foi uma forma de dar continuidade à propagação dessa trajetória. “Quando terminei a faculdade, ainda estava muito ligada à pesquisa. Então, decidi prestar o mestrado na própria universidade, e assim me veio a oportunidade de pesquisar e trabalhar mais uma vez com Carolina.”

Carolina foi descoberta na favela do Canindé pelo jornalista Audálio Dantas (Foto: Banco de imagens)