Desenlatar o regional
Projeto vencedor da modalidade Ensaio Fotográfico Artístico no Expocom Sudeste 2016 explorou belezas do interior de MG e SP
Produção: Bia Indiano e Fernando Lima
Orientação: Profs. Eduardo Soares, Igor Savenhago, José Augusto Reis e Maurício Mello
Foto acima: Uma das principais avenidas de Franca, a Av. Alonso y Alonso, esconde uma rotatória arborizada e com uma estrutura para a passagem da água do córrego que lembra as pontes medievais (Bia Indiano e Fernando Lima)
“Desenlatando o regional” é parte do Projeto Experimental de conclusão do Curso de Jornalismo de Bia Indiano e Fernando Lima, em 2015. Foi pensado a partir de um estudo de Roland Barthes, que, em sua obra A Câmara Clara, escrita no fim da vida, em 1979, traz notas sobre a fotografia através de um percurso gerador de sentido. O autor se coloca no papel de um observador de uma imagem e tenta entender as suas primeiras impressões, as emoções que uma imagem causa, por que uma imagem o motiva mais do que outras. E, para analisá-las, desenvolve alguns conceitos: studium – o sentido óbvio, que se pode compreender e desvendar com um simples olhar; punctum – o indizível da imagem, o detalhe que atrai, um ponto de vista que deve ser observado a partir do spectator – o observador; e o último ponto de análise é o operator – quem produziu a imagem.
A intenção com o enquadramento e o plano escolhidos neste ensaio foi revelar detalhes que pudessem motivar, causar emoções, seja por sua beleza arquitetônica, beleza natural, reconhecimento do ambiente ou, ainda, pelo sentimento de acolhimento que o interior proporciona. O recorte das imagens faz com que o studium seja suplantado pelo punctum, pois, apesar de parecer óbvia uma ponte ou uma casa, o indizível na imagem tende a atrair e levar o spectator a pensar, tentar reconhecer a imagem, ir além desses detalhes e pensar o que há de diferente nesta ponte, nesta casa. E para que este reconhecimento se desse de forma individual e personalizada, para que cada um pudesse se colocar dentro da imagem, reconhecê-la como parte de seu “álbum de recordações”, optou-se pela ausência do elemento humano nas fotos.
Outro detalhe que possibilita uma maior reflexão é a ausência de cores. Sebastião Salgado afirma que “nada no mundo é em branco e preto. Mas o fato de eu transformar toda essa gama de cores em gamas de cinza me permitiam fazer uma abstração total da cor e me concentrar no ponto de interesse.”
O jogo de luz e sombras, texturas e contrastes, permite que o spectator se aprofunde na imagem para diferenciar céu e chão, chão e água. Para a criação dessa subjetividade na composição das imagens, foi necessário um planejamento, não só durante a foto, mas antes, na escolha das cidades a serem fotografadas. Optou-se por cidades menores, com até 100.000 habitantes, divididas em quatro regiões – Franca-SP, Ribeirão Preto-SP, Passos-MG e ao redor da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Para percorrer esses lugares, foram realizadas oito viagens, totalizando mais de 2.500 km e mais de sessenta cidades fotografadas.
1ª viagem – Franca a Sacramento
2ª viagem – Franca a Ibiraci
3ª viagem – Franca a Jardinópolis
4ª viagem – Franca a S. Sebastião do Paraíso
5ª viagem – Franca a Passos
6ª viagem – Franca a Delfinópolis
7ª viagem – Franca ao Parque da Serra da Canastra
8ª viagem – Franca a São Thomé das Letras
Durante quase um ano, foram tiradas mais de 3.000 fotos com uma câmera digital da marca Canon, sem o uso de flash ou qualquer outro suporte (tripé, rebatedores, etc).
Parte do ensaio foi exposta na Feira de Profissões da Universidade de Franca – FEPRO, em setembro de 2015, quando foi possível observar como os elementos intencionalmente selecionados agiram sobre o spectator. Bia Indiano e Fernando Lima perceberam que houve reconhecimento das cidades fotografadas e a curiosidade por diferenciar as texturas e sombras das imagens em preto e branco.
Muitas histórias sobre as regiões foram narradas. Um momento de troca de memórias, que foi premiado com o troféu do Expocom Sudeste 2016, na modalidade Ensaio Fotográfico Artístico, recebido em Salto-SP. Foram essas, mais a que abre essa matéria, as doze imagens enviadas ao congresso.