Realidade aumentada
Estudante de Jornalismo da Unifran se passou por usuária de entorpecentes para que reações das pessoas nas ruas fossem captadas
Produção: Danielle Andrade e Isadora Costa
Fotos: Wilker Maia
Orientação: Profs. Eduardo Soares, Igor Savenhago, José Augusto Reis e Maurício Mello
Foto acima: Em uma das imagens produzidas no centro de Franca, Danielle interage com quem passa enquanto as reações são captadas a distância, sob supervisão de Isadora (Wilker Maia).
Como parte do Projeto Experimental de conclusão do Curso de Jornalismo em 2015, foi proposto um ensaio fotográfico que captasse, no centro de Franca, as reações de quem avista um suposto usuário de drogas. O trabalho foi finalista do Expocom Sudeste do ano seguinte, concurso promovido pelo Intercom, o maior congresso brasileiro de comunicação.
A ideia inicial era que as duas estudantes autoras do trabalho, Danielle e Isadora, interpretassem usuárias de drogas, permitindo, a um fotógrafo que estivesse escondido, capturar olhares e expressões corporais daqueles que avistassem alguém simulando uma situação real de uso de entorpecentes. Porém, durante a realização de um ensaio-teste, concluiu-se que apenas Danielle interpretaria a dependente, para evitar consequências maiores de uma possível abordagem policial ou de outros usuários. Ficou definido, com isso, que Isadora acompanharia o fotógrafo, Wilker Maia – amigo das estudantes e que se ofereceu para colaborar com o projeto –, para orientar sobre as imagens a serem capturadas. O ensaio não foi feito com usuários reais de drogas porque é difícil identificá-los no centro de Franca, já que eles costumam conviver e se misturar com moradores de rua que não são usuários.
O teste foi de extrema importância para que o projeto desse certo, pois possibilitou a tomada de decisões essenciais, como a necessidade de locais estratégicos para o fotógrafo permanecer e não ser descoberto pelos transeuntes, as distâncias em que a câmera deveria estar para registrar com fidelidade os acontecimentos, os ângulos e enquadramentos desejados, bem como as atitudes que Danielle simularia, vestimentas e acessórios que deveria usar (roupas sujas, rasgadas, latinha de refrigerante, cachimbo e isqueiro). Tudo para que as fotos ficassem o mais próximo possível de uma situação real.
Não era possível determinar como ou quais seriam as reações das pessoas. Por isso, além de todos esses detalhes e preparativos, as estudantes precisariam de sorte para alcançar o objetivo inicial, visto que os contatos com os frequentadores do centro não haviam sido combinados. No ensaio “valendo”, muitas pessoas passaram pela “usuária de drogas”. A maioria reagiu com indignação, raiva, medo, intolerância, solidariedade, compaixão. Mas nem todas. Nesses casos, as reações foram de indiferença.
No total, foram tiradas mais de mil fotos e selecionadas 24 para um acervo exposto na Fepro (Feira de Profissões da Unifran), realizada em setembro de 2015 nos corredores da universidade. Após mais um refino, 12 foram escolhidas para o Expocom (das quais oito são apresentadas nesse texto – sete abaixo mais a de abertura).
O nome do projeto, “Drogas: realidade aumentada”, foi definido após conversas entre Danielle, Isadora e os orientadores do trabalho, em que concluiu que era preciso colocar uma “lupa” sobre o tema da dependência química, para que ele viesse à tona na imprensa, tendo em vista que, geralmente, é ocultado, abafado.