Cultura alternativa

Em prol do coletivo

Ecovila Tibá, fundada há dez anos em São Carlos-SP, busca convivência harmônica entre as pessoas e destas com o ambiente

Kétila Maria

Foto acima: Proposta é a construção de um mundo melhor pela cooperação (Foto: Kétila Maria)

Nos primórdios da humanidade, a alimentação era baseada em fontes que não modificavam a natureza de forma significativa. A Revolução Industrial, a partir do século 18, transformou esse cenário. A agricultura passou a usar métodos artificiais para aumentar a produção, visando à obtenção de lucro.

Os alimentos industrializados dominam o consumo das famílias em diversas partes do mundo. Devido à correria do dia a dia, muitas preferem “o que é mais prático”.

Para fugir desse padrão, há exatamente 10 anos, em São Carlos-SP, um pequeno grupo de amigos fundou a fazenda ecológica “Ecovila Tibá”, buscando uma forma de vida sustentável, ambientalmente e economicamente, com a prática da permacultura – que simula as características encontradas em ecossistemas naturais.

Moradores da ecovila se ajudam, qualquer que seja a atividade (Foto: Kétila Maria)

A fazenda, comprada pelos fundadores, é mantida pelos moradores, que pagam um título (aluguel) enquanto estão lá. Caso deixem o local, têm a opção de mantê-lo ou vendê-lo a outros sócios-moradores. ”Eu estava na faculdade quando, com amigos da república e professores, decidimos morar juntos em uma chácara ou fazenda. Achamos uma que já tinha casa construída, o que facilitou”, explica Gleice Teixeira, uma das fundadoras de Tibá.

Os moradores procuram valorizar também a diversidade e respeitar o próximo, com apoio mútuo, no trabalho, nas amizades e na questão econômica, obedecendo a regras que valem para todos, sem distinção. ”Sou moradora da ecovila atualmente. Para mim, tem sido uma experiência sobre humanidade: expor os limites com amorosidade, ceder para apoiar uma vivência que para o outro é importante, ter paciência, tolerância, compaixão”, declara Fernanda Catarucci.

Local foi fundado por grupo de amigos de república e professores (Foto: Kétila Maria)

Ainda segundo ela, há pessoas que não conseguem se adaptar. “Tivemos muitos casos. A maioria de nós já vem com uma ideia de comunidade perfeita pré-concebida e as frustrações diárias em relação a esta comunidade imaginária fazem com que as pessoas desistam de continuar o processo de inserção. Na minha opinião, só esta vivência já faz todo o processo valer a pena. Não existe um lugar perfeito. Os espaços que ocupamos são co-criações nossas e do resto de grupo que compõe uma experiência.”

Como funciona

Na área de 11 alqueires – o equivalente a 37 campos de futebol -, é cultivada uma horta orgânica e existe um sistema próprio de saneamento básico e de aproveitamento da água da chuva. Tem também um pomar e um banheiro seco, que dispensa descarga e, em vez de dispensar os dejetos no ambiente, como faz um banheiro convencional, promove o tratamento deles.

Além da casa principal, o grupo vem mapeando novas áreas residenciais, a fim de construir ao longo do tempo. Quando faltam quartos para visitantes ou pessoas que se interessem pela experiência, são montadas barracas em um terreno próximo à sede.

Desde 2009, a fazenda realiza eventos que estimulam a vida sustentável, por meio de práticas ecológicas e ações culturais, como música e dança. O público é variado, composto por jovens e adultos que querem conhecer essa forma de vida.

“Uma das identidades do encontro é a coerência ideológica colocada na prática. Se acredito que temos que ter um pensamento mais ecológico, vou transferir para o meu dia a dia o máximo que eu puder. Se não queremos uma sociedade autoritária e repressora, vamos lutar para refletir na prática o que almejamos para a sociedade”, afirma a moradora Tatiana Furquim.

Placa na entrada da fazenda convida a conhecer o sistema (Foto: Kétila Maria)