Já somos ciborgues?
A evolução tecnológica que fez surgir o homem-máquina não é mais só um roteiro de filme de ficção científica
Fernanda Melo
Foto acima: Os ciborgues, híbridos do homem com máquina, já são uma realidade no século XXI (Banco de imagens)
A visão de um ciborgue já foi tema de ficção científica. Quadrinhos, livros e filmes exploraram a imagem de um ser humano híbrido com a máquina. O avanço tecnológico nos faz supor que, em breve, poderemos nos encher de gadgets. Envolvidos, porém, em um mundo de tanta tecnologia, será que já não viramos ciborgues?
Do laptop ao smartphone, do smartphone ao tablet, esses aparelhos estão presentes em tudo o que fazemos. Dependemos deles para realizar atividades cotidianas, trabalhos acadêmicos, guardar itens importantes e até mesmo para lembrar coisas simples.
Humanos ciborgues são os que se aproveitam dos avanços da robótica para melhorar condições limítrofes, como a perda de um braço, uma perna ou outra parte. Quase todos temos algum tipo de prótese, desde óculos até esse computador, com o qual dou seguimento na matéria.
Muitos confundem o conceito de ciborgue com o de um robô. Ciborgue consiste no hibridismo de um ser orgânico com componentes cibernéticos. Já o robô é completamente mecatrônico, sem qualquer matéria biológica.
O especialista em tecnologia Michelle Loguercio, de Ribeirão Preto, afirma que é possível a união de inteligência artificial com a do cérebro humano. Ele, que trabalha com tecnologia há 15 anos, afirma que já tivemos exemplos do tipo. Um deles foi na abertura da Copa de 2014, aqui no Brasil. Depois de muito suspense e expectativas, o jovem Juliano Pinto, de 29 anos, que tem paraplegia completa de membros e tronco inferiores, realizou uma proeza.
Utilizando-se de um exoesqueleto, equipamento desenvolvido especialmente para a ocasião, conseguiu movimentar a perna direita e deu um “chute simbólico” em uma bola de futebol, abrindo, oficialmente, o campeonato mundial.
Diversão
Para o futuro cientista da computação Leonardo Godoy Rocha, de Franca, “em um futuro próximo, poderemos ter humanos com algum elemento cibernético no corpo por diversão”. Ele acrescenta, porém, que ainda há dúvidas se esta situação poderá ser usada como algo bom ou ruim. Afinal, isso pode causar isolamento, contribuindo para a perda de afeto nas relações humanas.
Marshall McLuhan já havia afirmado, no livro “Os meios de comunicação como extensão do homem”, que chegaria um ponto em que, de forma figurada, amputaríamos membros para a inserção das tecnologias. Para alguns, esse momento já chegou e traz uma série de questionamentos.
Do ponto de vista do Direito, por exemplo, se uma parte de nosso corpo sofre danos, estamos diante de um ilícito penal (lesões corporais) e um ilícito civil (danos biológicos). Há uma dupla proteção sobre as partes do corpo humano, podendo qualquer agressão ser punida como crime, mas também com busca de indenização.
Se as inserções tecnológicas passarem a ser reconhecidas como partes do corpo, isso poderia mudar, radicalmente, as consequências de danos a equipamentos que são vistos, cada vez mais, como essenciais.
Se, por ora, parece obra de ficção científica, imaginar que um furto de celular representaria mais do que a ‘’subtração de coisa alheia móvel’’ não é impossível se considerarmos que o aparelho já tem papel importante no monitoramento da saúde, controlando, por exemplo, batimentos cardíacos. Outras funções, como verificação dos níveis de glicose ou alertas para a proximidade de uma crise epiléptica, também integram esse contexto.
Tudo é uma questão de tempo. Os humanos dependerão, cada vez mais, da tecnologia, estando ela conectada ou não ao biológico. A nós, cabe refletir sobre esse cenário, projetar o futuro e nos preparar para ele.