Café preocupa
Tempo quente e seco, que ajudou neste ano, prejudica desenvolvimento dos grãos para 2021 e pode derrubar produtividade
Heloísa Taveira
Foto acima: As chuvas, fundamentais para as primeiras etapas de cultivo da próxima safra, não vieram (Divulgação/Cocapec)
Se 2020 foi um ano de recordes e com grãos de qualidade para o setor cafeeiro, a produção do próximo ano deve ter uma quebra de 40% na região da Alta Mogiana. Isso porque as condições climáticas que colaboraram com a boa safra deste ano atrapalharão a próxima. Os produtores já calculam um dano irreversível às lavouras causado pelas fortes ondas de calor que atingiram quase todo o território nacional e que podem influenciar, significativamente, o preço do produto.
A Alta Mogiana, extensão que abrange Franca e municípios vizinhos, foi uma das grandes prejudicadas. Conhecida pela tradição dos cafezais, a região foi afetada pelos mais de cinco meses sem chuvas expressivas. Em um primeiro momento, a estiagem foi benéfica para a colheita da safra de 2020, favorecendo a secagem dos grãos. No entanto, para as primeiras etapas de cultivo da próxima safra, as chuvas são fundamentais.
O cafeicultor Caio Villar reforça essa relevância. “Elas [as chuvas] são muito importantes, pois são responsáveis pelo desenvolvimento do que chamamos de ‘chumbinho’ do café, que se forma depois que as flores caem e antecede a fase do grão. Quando chove bastante, como aconteceu recentemente, a florada vem com tudo depois”, afirma. E emenda: “Com a seca e o forte calor, várias lavouras acabaram queimadas. Os grãos ficaram secos e alguns produtores levaram prejuízo por conta da estiagem. Com tudo isso, a expectativa é que a produção seja baixa e o preço aumente”.
João Jacinto, agropecuarista na região, também vê o cenário com preocupação, principalmente para as novas plantações. “As lavouras mais novas, que não têm um sistema radicular consistente, vêm sofrendo bastante com a seca, o que pode causar problemas para as próximas safras, pois não temos certeza do volume de chuva e se as plantações irão se recuperar nos próximos meses”. Isso acontece porque as lavouras mais recentes têm raízes menores e demandam mais água para o desenvolvimento.
Perdas
Mesmo com alguns dias de chuva no mês de outubro, João acredita que já existem perdas no setor. “A safra de 2020 foi finalizada logo no início de setembro. Depois que uma safra acaba, já precisamos novamente da chuva e isso aconteceu de maneira tardia. Muitos produtores foram prejudicados porque os grãos ficaram secos e agora a expectativa é de uma safra menor, em que, possivelmente, os preços aumentarão.”
Somente na safra deste ano, a Alta Mogiana colaborou com, aproximadamente, quatro milhões de sacas, de um total de pouco mais de 60 milhões em todo o país – aumento de 25% em relação ao período anterior e considerada a segunda maior da história.
A Cocapec (Cooperativa de Cafeiculturores e Agropecuaristas), no entanto, considera que a estiagem que as lavouras enfrentam é a maior dos últimos 20 anos e essa é a realidade que vai influenciar na próxima colheita. “Normalmente, já teríamos chuvas volumosas em setembro, quando elas fazem saltar a floração da planta, pensando na produção da próxima safra. Quanto mais demorar a chover, mais complicações ela pode causar à planta”, diz Murilo Duarte, analista técnico da cooperativa.
Quem projeta os 40% a menos na produção de 2021 é o presidente do Sindicato Rural de Franca, José Henrique Mendonça. “A safra está altamente comprometida. Passei pelas fazendas de Minas e também está um desastre. Tudo seco. A planta não vai conseguir fecundar”, relata. “Estamos com um déficit de 110 mm. Faz décadas que isso não acontece.”