Falta de atenção
A ausência de rotas para ciclistas em Franca coloca vidas em risco e motiva pedido de associação por anel cicloviário
Thaís Fonseca
Foto acima: Grupo de ciclistas durante evento na região de Franca: reivindicação para que os atuais oito quilômetros de ciclovias e ciclofaixas se estendam para 95 (Divulgação)
O uso da bicicleta como meio de transporte sempre agradou ambientalistas e amantes do esporte. Ela tem boa fama por não emitir gases poluentes e nem necessitar de combustível. Mas, no Brasil, pessoas que adotam o veículo enfrentam problemas, como preconceito por parte de alguns motoristas e, principalmente, a falta de ciclovias e sinalização adequada, situações que aumentam, consideravelmente, o risco de acidentes.
Em Franca, não é diferente. Mesmo com uma área de 605.679 quilômetros quadrados, a cidade só tem quatro ciclovias, que formam uma malha de cerca de oito quilômetros. Elas se encontram nas avenidas Abrahão Brickmann e Moacir Vieira Coelho, Wilson Sabino e Santos Dumont, e Emílio Paludetto. Há, também, uma ciclofaixa na avenida Presidente Vargas e uma ciclovia na área rural, na Cândido Portinari Paineirão. Apesar de algumas reformas, realizadas no ano passado, elas estão precariamente sinalizadas, com problemas de descontinuidade em cruzamentos, falta de placas e rampas inadequadas.
Ciclofran
Foi pensando em problemas como esses que amantes das bikes se uniram para criar a Ciclofran – Associação dos Ciclistas de Franca. O intuito é que haja representatividade junto ao poder público, para a implementação de políticas e planejamento da mobilidade urbana. Entre todos os benefícios de utilizar a bicicleta, eles defendem, ainda, que pedalar contribui para a inclusão social, por ser mais acessível à população. “Existe uma grande quantidade de trabalhadores e estudantes em Franca que só têm a bicicleta como meio de locomoção. Não têm automóvel e sequer dinheiro para a compra de passagem de transporte público”, afirma Flávio Alves, membro voluntário da associação.
A ideia da Ciclofran foi colocada em prática em fevereiro do ano passado, após conhecimento sobre a convocação de uma audiência pública para discutir o plano de mobilidade urbana de Franca. “Representando os ciclistas, resolvemos, então, aderir à campanha ‘Bicicleta nos planos’”, afirma Alves.
A campanha é realizada pelas associações Bike Anjo e UCB – União de Ciclistas do Brasil, com apoio do Instituto Clima e Sociedade – ICS, e tem, como objetivo, estimular e assessorar a sociedade para a inclusão da bicicleta como meio de transporte, através da sua inserção no PLANMOBS – Planos de Mobilidade Urbana.
A falta de infraestrutura no trânsito afeta, principalmente, os ciclistas e pedestres, que são os mais vulneráveis. Pela falta de ciclovias e ciclofaixas, ciclistas tendem a tomar rotas alternativas, que, por vezes, são caminhos mais distantes de seu destino final, o que atrasa compromissos importantes, como o trabalho. Em algumas situações, nem isso é possível, obrigando a pegar atalhos, o que coloca a vida em risco.
Murilo Cruz, que anda de bicicleta há 15 anos, por hobby, relata que transita pela cidade pelo menos duas vezes por semana e passa por diversos problemas. “Sempre que é possível utilizo a ciclovia, mas, como são poucas, na maioria das vezes sou obrigado a andar próximo da sarjeta, para fugir dos carros”, diz ele, que também enfrenta situações de estresse com motoristas. “O que mais me incomoda é a falta de respeito. Muitas vezes, eles avançam a sinalização e até me ofendem por ser ciclista e estar na rua”.
Anel
Uma das propostas da Ciclofran enviadas ao poder público prevê a criação de um anel cicloviário, numa rota que já existe e que, mesmo sendo longa e não tendo a sinalização necessária, é a mais utilizada pelos ciclistas. A ideia é aproveitar a qualidade e facilidade do local para propiciar novas conexões e eixos que ligam vias. A associação obteve sucesso ao protocolar uma carta de compromisso com todos os candidatos à prefeitura, durante a campanha “mobilidade sustentável nas eleições”.
Um estudo realizado pela própria Ciclofran mostrou que quase a totalidade dos últimos pedidos de vereadores para o trânsito tinham ligação ou eram no próprio anel cicloviário. Seguindo os dados, apenas 6,9% não tinham ligação, 46,55% tinham e outros 46,55% eram no próprio anel. Sobre a proposta, após a construção, que seria dividida em etapas, a nova malha cicloviária de Franca, incluindo o anel e suas interligações, passaria a ter 95 quilômetros de extensão. Um grande contraste com os atuais oito quilômetros de ciclovias e ciclofaixas.
De acordo com a Prefeitura de Franca, reparos nas rotas cicloviárias foram feitos em 2019. Entre eles, reforço na pintura e rebaixamento das guias nas avenidas Abrahão Brickmann e Moacir Vieira Coelho, ambas na região norte, para facilitar a locomoção de cadeirantes e pessoas idosas. As melhorias, realizadas pela equipe da Empresa Municipal para o Desenvolvimento de Franca (EMDEF), atendem, segundo o município, as orientações técnicas do Código Nacional de Trânsito.
A ciclovia da Avenida Presidente Vargas também recebeu nova pintura, num trecho de 2.500 metros, além do que foram refeitas faixas em toda a extensão dela, para indicar a área em que os ciclistas podem transitar. Aos domingos, esta via é fechada aos carros, das 7h às 12h, para fins de recreação e atividades de ciclistas.
Além dessas, não há, conforme o poder executivo, nenhum outro projeto em andamento para ciclistas. Um desafio para o próximo prefeito.