Ciência transformadora

Unesp fica em Franca

É isso o que garante o diretor da faculdade, Murilo Gaspardo, nessa entrevista concedida de forma exclusiva ao Agenda Sette

Pedro Klein

Foto acima: Para Murilo, o programa Future-se, do Governo Federal, é ruim por apostar que o único modelo de financiamento possível para a universidade é o privado (Divulgação: IEA/USP)

Murilo Gaspardo é natural de Jaboticabal. Se formou em Direito 2005 e tem mestrado e doutorado. Todos pela USP. Também em 2005, tomou posse como o vereador mais jovem de Jaboticabal, cargo que exerceu por dois mandatos, até 2012.

Em 2014, ingressou na Unesp de Franca como professor de Ciência Política e Teoria do Estado. Quatro anos depois, foi eleito pelos funcionários, professores e alunos como diretor da faculdade, posição que exercerá até 2022.

Nessa entrevista, conversamos sobre a educação pública, a necessidade de estabelecer relações com a comunidade local e seus projetos para a gestão. Gaspardo nos recebeu em seu gabinete na faculdade na tarde de 29 de outubro.

Qual é o futuro da educação universitária pública? O modelo chegou ao seu limite? O que as universidades podem fazer para reverter a situação?

O modelo atual de educação superior gratuita e custeada, predominantemente, com recursos públicos não chegou ao limite. Países chamados de ponta mundo a fora, em termos de desenvolvimento econômico e tecnológico, continuam a fazer importantes investimentos públicos na educação superior e na pesquisa. A pesquisa no Brasil se concentra nas universidades públicas, não que elas não ocorram também em particulares. É obvio que mudou, e mudanças precisam acontecer, mas eu não concentraria essa discussão em torno do debate fiscal, do financiamento. Eu penso que que ele deva ser no sentido de uma maior abertura das universidades para sua interlocução com a sociedade, mantendo as pesquisas básicas, mas com uma abertura maior dos resultados. Tanto em termos de desenvolvimento econômico e tecnológico, como em termos de políticas públicas, o que já acontece em grande medida, mas que poderia ser potencializado.

Qual a opinião institucional sobre o Future-se?

Não existe uma opinião institucional da Unesp, o Conselho Universitário não se posicionou em relação ao programa. E eu penso que isso se deva principalmente ao fato de o programa não se aplicar à universidade, pelo fato de ser uma universidade estadual. Muitas federais já se posicionaram formalmente em relação ao programa. Aqui na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, o programa tem sido discutido informalmente em vários círculos, mas não houve uma abordagem formal. Não é possível dizer que exista uma posição da instituição. O que eu posso dizer é qual é a minha posição pessoal, enquanto gestor de uma unidade universitária e alguém que pesquisa política no país. Me parece um programa muito ruim por apostar que o único modelo possível para a universidade é o modelo do financiamento privado, de eficiência de mercado, que parte de um pressuposto muito comum no debate político brasileiro, que é a demonização do Estado, como se tudo o que fosse público fosse ruim e aquilo que é privado é necessariamente bom. Isso não é verdade. Esse é o pressuposto do Future-se. Prova disso está em tudo quanto é ranking nacional e internacional de avaliação de universidades, e sempre as públicas são as que pontuam nas primeiras posições, quaisquer que sejam os critérios desses rankings.

Qual a chance de o Governo do Estado impor algo similar à Unesp? Como o campus de Franca se adequaria à situação?

Temos a proteção da autonomia da universidade, assegurada pela constituição, pelas normas do estado de São Paulo, e penso que seria difícil o governo do estado avançar numa proposta nesse sentido. Além da questão da própria autonomia das universidades, mas também em função de algumas posições que o próprio governo vem adotando. De certa forma até surpreende pela matriz liberal do governador, mas que possui avaliação positiva em relação ao papel que as universidades públicas paulistas desempenham, inclusive procurando se contrapor àquilo que o Governo Federal propõe em termos de política educacional e em outros setores.

Em 2018, ano de sua posse, a Unesp estava em grave crise econômica. Uma das soluções propostas foi o fechamento de campi no litoral sul. A ideia continua na pauta do Conselho Universitário?

O Conselho Universitário não apresentou essa proposta. Isso é fake [Fontes docentes em três campi da Unesp, nenhum deles de Franca, contestam essa declaração. A alegação é que houve discussões para o fechamento da unidade em Registro, o que, inclusive, gerou forte reação do município para mantê-lo]. Nunca essa proposta foi discutida no Conselho Universitário. Há, de fato, um debate em termos informais a propósito da expansão da Unesp. O que me parece correto é a expansão de vagas no ensino superior público. Também me parece importante esse enraizamento que a Unesp apresenta pelo Estado de São Paulo. Se costuma dizer que, se tomarmos cada uma das unidades e traçarmos um raio de cem quilômetros, sempre haverá uma área coberta pela Unesp no estado de São Paulo. Isso oferece oportunidades de ensino, de pesquisa e também fomenta o desenvolvimento regional. Agora, há uma certa avaliação de que o processo em si foi marcado por equívocos. Muitas vezes a multiplicação das unidades, a escola dos cursos e sua adequação à região de instalação, pode ter sido excessiva. Não tem estudos sistemáticos sobre isso para cravar com toda certeza, mas podem ter ocorrido equívocos neste casamento entre a escolha do curso e as regiões, e um excesso de pulverização. Se conversa informalmente sobre isso em vários segmentos da universidade, mas formalmente isso nunca foi pautado pelo Conselho Universitário e, por enquanto, pelo menos, não há sinal de que isso entre em pauta.

Existe chance de o campus de Franca ser fechado?

Isso nunca foi cogitado por várias razões. É um campus histórico, em vias de completar 60 anos. A unidade aqui é anterior a própria Unesp. É uma daquelas unidades que foram incorporadas no processo de criação da Unesp. Não é uma recém-criada, e os cursos aqui apresentam alta procura, alguns com maior, outros com menor, mas todos estão bem acima da média de procura dos vestibulares da Vunesp. Isso nunca foi cogitado, está completamente fora da agenda.

Para Murilo, aproximação entre universidade e comunidade deve ser maior (Foto: Banco de imagens)

Um projeto histórico do Departamento de Relações Internacionais da faculdade é a transferência do curso para a capital. Qual a chance de isso ocorrer? De que maneira o senhor acredita que fragilizaria o campus como um todo?

De fato, esse é um debate antigo, e eu acompanho os dois lados da questão. Quem defende a transferência para São Paulo tem alguns argumentos fortes. O programa de pós-graduação de Relações Internacionais está situado na capital [Gaspardo se refere ao Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas”, em rede com a Unicamp, a PUC-SP e o campus da Unesp em Marília. Se trata de um programa de natureza], e também é um curso que tem um perfil mais de capital. Por outro lado, se pondera que São Paulo é bastante servida de cursos de Relações Internacionais, há muitos cursos lá instalados, e é importante que existam cursos no interior do estado também, ampliando o acesso. Se o curso for bem estruturado, com oportunidades de estágio dentro e fora de Franca, nada impede que o aluno passe um período fora. É muito comum intercâmbio nacional e internacional, particularmente em cursos de RI [Relações Internacionais]. Não haveria qualquer prejuízo para a formação do aluno. Esse tema, vez ou outra, é aventado dentro do departamento, mas, se isso fosse adiante, teria que, primeiro, passar por uma discussão e aprovação dentro do próprio departamento, depois ir à congregação da faculdade. Quem defende a proposta costuma projetar uma contrapartida, no sentido da criação de um novo curso aqui em Franca, para compensar essa saída. Da minha parte, já coloquei para os grupos que, primeiro, é necessário que exista um consenso mínimo dentro do departamento. Sem isso, essa ideia não avança e, não havendo compensação para a unidade, essa ideia também não avança. Como atualmente, em função da própria crise que você mencionou, não existem perspectivas para a criação de novos cursos da Unesp. A gente tem de passar essa crise e recuperar nossos cursos que perderam docentes sem reposição, e o mesmo se aplica aos servidores técnico-administrativos. Portanto, penso que, no horizonte do mandato que vou exercer, não há perspectivas para a transferência do curso para São Paulo.

Nesse ano, o campus iniciou três programas no YouTube: Unesp Franca Opiniões, Pesquisa e Diálogos. Com 38 vídeos online, como o senhor avalia o projeto?

Foi uma iniciativa do Departamento de História, do professor Marcos Sorrilha, bastante ligado às questões de internet. Ele tem um blog pessoal, com vídeos que ele mesmo produz. Nós criamos uma estrutura de comunicação aqui, uma equipe de comunicação e relações institucionais para cuidar disso. No início, acompanhei um pouco mais, mas, depois, deixei por conta da equipe, inclusive para que não houvesse nenhuma interferência das minhas posições com relação às pautas. A equipe, juntamente com os programas de pós-graduação e os departamentos, é quem define quem vai falar sobre o quê. O Unesp Franca Opiniões trata de docentes que comentam temas polêmicos na agenda nacional. O Unesp Franca Pesquisa envolve não apenas docentes, mas também pesquisadores em geral, para divulgar o nosso trabalho, o que normalmente ocorre só no âmbito das revistas científicas, mas que não chega à sociedade. O programa é positivo no sentido de que as pessoas começaram a criar essa cultura, mas ele ainda precisa avançar muito em termos de visibilidade. Faz tempo que não olho os números, mas não são tantos que assistem aos programas ainda. Acho que o próximo desafio, além de dar continuidade à produção, é que as pessoas assistam. E o Unesp Franca Diálogos é um programa que vai para o YouTube, mas é apenas um produto derivado. A ideia é juntar pessoas da universidade, docentes e pesquisadores que tenham visões diferentes sobre determinado assunto, para que essas pessoas dialoguem. Tivemos duas edições internas e uma edição que foram seis eventos em conjunto com outras universidades. A Unifran, inclusive, participou de uma das mesas, o Pint of Science, que vai se repetir em maio do ano que vem, e dessa vez com a organização cabendo não apenas à Unesp. A gente criou um grupo no WhatsApp com representantes da Unifran, da UniFACEF, da Unesp e da FDF [Faculdade de Direito de Franca] para estruturar um projeto coletivo das quatro universidades no ano que vem. O YouTube é um produto, mas é a aproximação entre os docentes. Cada um segue a sua linha de pesquisa, segue o seu trabalho individualizado e não tem essa abertura para conhecer o que o outro faz, dialogar com o outro, até desenvolver perspectivas de parceria. É uma mudança incipiente, até cultural, mas, com as limitações que temos, a avaliação é positiva.

O que se observa pela página do Facebook da universidade e pelos comentários dos alunos é que a Unesp está fazendo um esforço mais vigoroso no último ano para se publicitar. O senhor acredita que há um rompimento entre a sua gestão como diretor e a anterior? Essa sempre foi a sua intenção ou é uma das necessidades do cargo?

Entendo que a universidade vive uma crise de legitimidade perante a sociedade, que, em parte, é fruto de uma construção de quem ocupa o poder no país hoje, de ataque à universidade e qualquer instância que funcione como crítica, de pensamento livre. Mas também temos a nossa responsabilidade por pensarmos se o que fazemos é o suficiente, seja na formação de profissionais qualificados para o mercado ou das pesquisas avaliadas pelos pares, apresentação dos congressos, eventualmente na geração de alguma tecnologia, de uma patente. Nesse momento de forte crítica que a universidade sofre, acho que é um despertar para essa necessidade de prestar contas para a sociedade. Penso que é um contexto global que leva a isso. Não somos apenas nós aqui em Franca que estamos fazendo isso. A USP, a Unicamp, as universidades federais estão todas agindo nesse sentido, até a FAPESP [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]. No outro dia mesmo, a gente estava na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a Unesp fez uma exposição lá, e depois tinha uma da FAPESP. É uma onda geral, e coincide de eu estar nessa onda, mas sempre tive essa preocupação. Essa é uma distinção em relação à gestão anterior, e uma preocupação com a necessidade de fazer isso de forma o mais profissionalizada o possível, não dependendo apenas da boa vontade de designar alguém. Criamos uma sistemática, esquematizamos como fazer, formulamos em conjunto com o grupo algumas diretrizes, e tem um grupo de pessoas que têm outras funções aqui dentro. Infelizmente, a gente não tem condições de contratar. O sonho seria esse. Ter uma agência especializada pra cuidar disso, pessoas que gostam de escrever, de lidar com as redes, de fazer as entrevistas, os vídeos, que se dispusessem a assumir mais essa tarefa além daquilo que lhes caiba, mas com um pouco mais de profissionalismo. Aí, nós procuramos os veículos de imprensa também para abrir essas portas, e também as diversas organizações representativas de Franca.

Qual é a importância que o senhor atribui à comunicação na educação universitária pública? Quais são os modelos que o senhor admira no sentido de relações com a comunidade? Qual seria um mal exemplo na sua opinião?

Não sei responder a essa pergunta porque não tenho um modelo direto de comunicação. Vim da Universidade de São Paulo, e uma coisa que eu vi que aqui era muito mais interessante é o trabalho de extensão. É lógico que tinham coisas importantes lá, mas aqui há uma diversidade de projetos muito interessantes atuando em escolas, em associações de bairro, em assentamento rural, conselhos de políticas públicas, uma gama bastante diversificada de espaços, no sentido em que é preciso articular mais isso para ter visibilidade, e assumir essa relação com a sociedade como uma estratégia institucional, e não apenas de ações isoladas. Por coincidência, nesse caminho, conversei um pouco com o prof. Floriano [Peixoto de Azevedo, diretor da Faculdade de Direito da USP], com o prof. Marcos [Augusto Perez, professor e membro da comissão de extensão da faculdade], e com o prof. César [Martins, diretor do Instituto de Biociências de Botucatu, da Unesp], que partilharam algumas ideias, mas foi um processo mais intuitivo, de minhas experiências de vida, um pouco da minha pesquisa em democracia, em política. Não parti de um modelo específico, nem teria um modelo negativo para apontar.

Quais foram os erros e acertos da sua gestão em estabelecer relações com a comunidade?

Prefiro deixar esse julgamento para terceiros. É complicado fazer uma avaliação nesse sentido. Estamos aí com um ano e cinco meses de gestão. Acho que a simples iniciativa de ir à comunidade, com o poder público, com as lideranças da sociedade civil, é importante. A Unesp de Franca vem melhorando sua interlocução com a sociedade. Isso começa a dar alguns resultados, sobretudo em termos de investimentos, em emendas no orçamento do estado, da União, a própria aproximação com as outras universidades da região. Um grande projeto que catalisa isso é o Fórum Franca Sustentável, que foi uma ideia que me ocorreu numa experiência da Unesp de Araraquara, a partir dos resultados de uma pesquisa que envolveu a Rede Nossa São Paulo, o programa de metas, mas que sabia que não adiantaria querer tocar sozinhos. Não tínhamos fôlego para isso aqui na Unesp e temos uma riqueza de instituições de ensino superior aqui em Franca. Não teria cabimento querer fazer isso sozinhos. Então, começamos a conversar com a ACIF, com a Secretaria de Desenvolvimento da Prefeitura, depois com a Kátia [Jorge Ciuffi, reitora da Unifran], com o pessoal da FDF, e construímos esse projeto coletivamente. Essa aproximação com outras universidades para pensar o futuro de Franca a partir dos objetivos do milênio da ONU me parece muito positivo. Quanto a erros, não sei avaliar, mas talvez essa construção de relações com a sociedade não surtiu resultados palpáveis. Ainda não tivemos um grande projeto que tenha resultado desses contatos, dessa ação da equipe de comunicação e relações institucionais, e espero que isso ocorra ao longo dos próximos anos. Semear é importante, mas é preciso cuidar da semente, regar, adubar, para que dê os frutos concretos, se não a semente fica só na invenção, e isso é frustrante para a gestão.

Nesse sentido, existe mais algum projeto que o senhor queira fazer em parceria com a Unifran e/ou com a UniFACEF?

Dentro do próprio fórum Franca Sustentável, mas com uma abrangência maior – pois não será um evento mais local, está ganhando uma abrangência nacional –, faremos um seminário sobre a aplicação da Agenda 2030 da ONU no âmbito dos municípios em geral e, para isso, estamos em parceria com diferentes atores, como o PNUD, a Associação Brasileira dos Municípios, o Instituto Ethos. Será um grande evento, com três dias aqui no mês de abril e multissede. A abertura vai ser na Unifran, o segundo dia na UniFACEF e o terceiro dia aqui na Unesp, com conferências, mesas, painéis, grupos de trabalho de pesquisas. E o terceiro dia será um momento de articulação, de organizações da sociedade civil, de universidades e, também, do setor empresarial. Teremos bastante trabalho pela frente, mas acho que vai ser algo bastante marcante. Acredito muito nessa articulação entre as universidades. É natural que universidades que estão no mesmo segmento tenham competição, mas são instituições que têm cursos, perfis e públicos diferentes. Então, penso que, embora possa haver uma competição ou outra, temos muito mais no que cooperar, e em via de alguns debates sobre o contexto econômico de Franca, com as dificuldades que a indústria calçadista vem enfrentando, mas ainda com importância, com potencial para recuperar, com novos setores despontando, como o café, as lingeries, a moda fit. Franca também é uma cidade com um grande polo educacional. Além das quatro que já mencionei, tem a Fatec, a Anhanguera, e isso movimenta a economia da cidade. Penso que essas universidades têm de trabalhar uma maior aproximação com o setor empresarial, industrial, o setor público também, como um meio para potencializarmos esses resultados econômicos para a cidade, a exemplo de São Carlos e Ribeirão Preto. O setor educacional é importante para Franca, e pode ser ainda mais.

Quais seus principais objetivos até o final da gestão?

Construímos um programa que tem os eixos, os objetivos, as diretrizes, e esse programa foi reconstruído a partir dos debates que se desenvolveram a partir da campanha e no período de transição. Nesse programa, tem um monte de questões que são relacionadas ao dia a dia e ele se consubstanciou em dezenove programas. Uma parte deles vinculada a questões de administração, outros na parte acadêmica propriamente. E tem os programas especiais, que é o programa de gestão digital, o programa de arte e cultura, o programa de esporte e saúde, e o programa de comunicação. Os programas estão desenhados, e a questão agora é concretizá-los, de amadurecer as iniciativas. Não devemos propor ações novas, temos de concretizar. Por exemplo, a página do Facebook, em termos de giro de notícia, ela vai bem, mas precisa ter mais visibilidade, que não seja restrita ao nosso público interno. Dar maior visibilidade também ao Twitter, Instagram, YouTube. Acho que temos acessado bem a mídia regional. É claro que isso pode melhorar ainda, conseguir cavar um pouco mais de espaço. Vez ou outra, tive uma participação, outros docentes também, em periódicos de circulação nacional, mas acho que ocupar espaço de debate, de opinião, jurídico, político, de história, seria importante. Transcender a imprensa local e regional. Penso que seria algo nessa linha, de ampliar as iniciativas já iniciadas, assegurar maior visibilidade para aquilo que a gente tem, que eu sei que é difícil. Uma novidade para o público interno, mas que não é mais interno, é o acesso aos nossos antigos alunos. Estamos construindo uma política nesse sentido, que são 2.300 alunos que estão aqui no momento, e, ao longo da história, muita gente mais passou por aqui. O pessoal está lançando um boletim mensal, fazendo um trabalho de aproximação com os antigos alunos que se cadastraram na plataforma Alumni [Site alumni.unesp.br, iniciativa da reitoria em 2017, que busca reunir ex-alunos da instituição, bem como oferecer serviços de documentação e intermediação profissional via internet], que tiveram vínculo aqui com Franca ou que deixaram seus e-mails, para que recebam uma informação sobre como anda a universidade em que elas estudaram. Ano passado, instituímos uma comemoração do aniversário da unidade, algo em que não tínhamos essa tradição, e vamos repetir todos os anos. Vamos implantar o Centro de Memória da faculdade. A gente tem um Centro de Documentação Histórica e, junto dele, teremos o Centro de Memória para contar a história da Unesp de Franca, intercalada com a história do município. Me incomodava estar numa faculdade de História em que não se estava preservando a própria história de uma instituição em vias de completar 60 anos. Esse espaço vai ser para a manutenção do acervo, mas também aberto à comunidade. Vai ser mais um instrumento para receber as visitas de interessados, em geral de escolas.

O que o senhor deseja dizer à população de Franca?

Que a Unesp é uma instituição muito importante para o desenvolvimento de Franca, pelo impacto econômico que provoca na cidade, com o gasto dos salários dos servidores, dos estudantes que vêm pra cá. Muitos deles recebem bolsas da universidade e investem na cidade. Mas, muito mais do que isso, ela tem um impacto simbólico muito importante, no sentido da circulação cultural, intelectual, dos eventos que são promovidos aqui, do debate acadêmico, da ação extensionista, dos quadros profissionais que são formados pro ensino básico, superior, para as políticas municipais e mesmo a atuação do terceiro setor no âmbito do Serviço Social, da área jurídica, das Relações Internacionais. Gostaria muito que a população de Franca conhecesse mais a Unesp. Muitas vezes, há um certo preconceito com relação à instituição. A cidade não se apropria dela como deveria. Estamos aqui na Unesp, mas não é qualquer Unesp, é a Unesp de Franca. Se apropriar dessa condição é mais forte em outras cidades. Na função que ocupo hoje, acabo conhecendo outras realidades, e tem cidade em que esse vínculo é mais forte. Estamos tentando dar alguns passos nessa direção, sendo muito bem acolhidos por aqueles com quem temos estabelecido essa interlocução, e esse é um pedido. Por outro lado, da nossa parte, somos muito gratos por estarmos em Franca, a cidade que acolhe essa universidade. A área em que esse campus está instalado foi resultado da doação de uma fundação, do patrimônio de um benfeitor aqui de Franca, o Cavalheiro Petraglia. Não fosse essa doação, não teríamos nem mesmo esse espaço. Foi a comunidade de Franca que nos deu esse espaço. Foram lideranças francanas que, há mais de 60 anos, se empenharam para que a cidade tivesse essa faculdade. Boa parte dos docentes não é de Franca, boa parte dos alunos não é de Franca, e aqui é que somos acolhidos e chegamos para ocupar o espaço de outras pessoas que já estão estabelecidas. Temos de entender a dinâmica, a cultura, os valores da cidade. Ao mesmo tempo em que peço que nos conheçam melhor, que se apropriem da Unesp, digo, da nossa parte, da nossa gratidão pela maneira com que Franca nos acolhe e por estarmos aqui instalados.