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Política solidária

Vereadora de Carmo do Rio Claro, sul de Minas, doa, todo mês, seu salário para entidades que precisam de ajuda

Eudis Silva

Foto acima: Funcionários da Recicarmo, Cooperativa de Reciclagem do Lixo, recebendo doação da vereadora (Divulgação)

De forma inédita em Carmo do Rio Claro, no sul de Minas Gerais, a vereadora Angela Maria de Souza Vitor, de 63 anos, eleita em 2016 pelo Solidariedade (SD), dispõe de seu salário para ajudar a comunidade. Desde 2017, quando assumiu o cargo público, doa o que recebe como parlamentar para instituições que precisam de ajuda financeira. “Estou vereadora para ajudar a população e, quanto mais você ajuda, mais retorno você tem.”

Você deve estar se perguntando qual motivo leva uma vereadora a tomar esta decisão, algo muito diferente do que estamos acostumados a ver no ambiente político. Mas a ação não era promessa de campanha. Angela teve a ideia após receber o primeiro salário. De acordo com a vereadora, a prefeitura, na época, não estava destinando auxílio financeiro (subvenções) às instituições sem fins lucrativos da cidade, que precisavam muito dessa ajuda. Com o objetivo de suprir a falta, decidiu abrir mão de aproximadamente R$ 3 mil mensais a que teria direito.

A vereadora já doou seu salário para diversas entidades: Recicarmo – Cooperativa de Reciclagem de Lixo, APAE, Creche Recanto da Alegria, Hospital do Câncer de Passos, Hospital do Câncer de Barretos, Hospital São Vicente de Paulo, entre outras. Segundo ela, as instituições a procuram. O critério usado para a doação é o grau de necessidade. Procura ajudar aquelas em situação mais crítica. “Eu faço uma lista e vou doando de acordo com a necessidade. Já tem mais cinco entidades na fila. Entre elas, está a Comunidade Terapêutica Coração da Serra.”

Irmã Conceição (dir.), do Centro São José, recebe a doação da vereadora (Foto: Divulgação)

Um dos casos que chamam a atenção é o do Centro de Formação São José. Esta associação não tem fins lucrativos e acolhe crianças, adolescentes e seus familiares, contribuindo para o desenvolvimento social e profissional por meio da promoção de cursos e outras atividades, como balé, teatro, música e informática. O centro foi fundado em 2000, em Carmo do Rio Claro, pela irmã Maria da Conceição Alves de Almeida, preocupada com os problemas sociais que afetam as famílias da região.

Segundo a irmã, houve uma época em que a entidade passava por dificuldades alimentícias. Foi neste contexto que apareceu a doação de Angela, que é diretora voluntária do centro desde 2009, muito antes de se tornar vereadora. “Chegou em uma hora muito boa, porque passamos muito aperto financeiro. Só tenho que agradecer à Angela pelo que ela tem feito. Ela e o marido sempre nos ajudaram muito e, só um dia, diante de Deus, vão entender o que têm feito por essa entidade.”

Além de resolver a falta de comida, os recursos da parlamentar ajudaram na compra de materiais necessários para o balé e o teatro.

Como Angela virou vereadora

Após se aposentar como secretária executiva do Departamento de Anatomia e Biologia Celular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, onde cuidou das áreas administrativa, financeira e acadêmica por 32 anos, Angela se tornou diretora voluntária da Comunidade Terapêutica Recanto São José, pois, segundo ela, sempre teve disposição para o trabalho social voluntário.

Balé é um dos projetos do São José (Foto: Divulgação)

No entanto, não tinha formação em Serviço Social, algo que passou a ser exigido por lei para quem ocupa cargo de direção de comunidades terapêuticas. O curso foi feito na Universidade Paulista (UNIP). No último ano, precisou se afastar da diretoria para cumprir as horas de estágio exigidas para a formação. A comunidade acabou sendo extinta. “Como não tinha mais nada para fazer, já era aposentada, pensei: vou me candidatar a vereadora.”

Angela Vitor foi eleita com 365 votos, sendo a terceira vereadora mais votada em 2016. Na região de Carmo do Rio Claro, que inclui Alpinópolis e Conceição da Aparecida, é a única vereadora que realiza este tipo de ação.

Em Franca, SP, não há nenhum vereador que realize publicamente algo do tipo. Na gestão passada, quando foi proposto o projeto que de aumento salarial para o Legislativo, ocorreu algo parecido: segundo a assessoria de imprensa da Câmara, o vereador Miguel Laércio Matias votou contra a proposta e, apesar de o projeto ter sido aprovado, repassou a diferença para entidades do município.

Em Ribeirão Preto, a 90 quilômetros de Franca, também não há nenhum vereador que realize atos como este, segundo informações da assessoria de imprensa da câmara.

Animais

Além da doação do salário como vereadora, Angela doa mensalmente, desde 2017, mais de 180 quilos de ração para a associação São Francisco de Carmo do Rio Claro, MG, que mantém um canil para abrigar cerca de 180 cães. Todos os dias, voluntários se dividem para cuidar e atender casos de atropelamento, abandono, maus-tratos, violência física, entre outros.

Desde quando assumiu o cargo de vereadora, calcula ter doado mais de R$ 60 mil para instituições sem fins lucrativos. Na expectativa de que o exemplo gere ações parecidas, deixa uma mensagem para os demais políticos. “Não façam da câmara um cabide de emprego e, sim, um meio de ajudar a população.”

A vereadora com rações doadas mensalmente para a Associação São Francisco (Foto: Divulgação)