Pelos outros
Grupo de docentes de Franca cria projeto de Cãoterapia para levar atendimentos a hospitais, lares de idosos e escolas
Jéssica Gonçalves
Foto acima: Visita a lares de idosos ajuda a melhorar estado físico e emocional (Divulgação)
A Cãoterapia é um trabalho realizado com cachorros, que são vistos como co-terapeutas. Consiste em visitas programadas a pessoas que precisam de ajuda no processo de superação de fobias, despertar reflexos, recuperação em casos de acidentes, depressões, demências e outras doenças de origem nervosa, redução de traumas ou de impulsos violentos, ações realizadas em centros penitenciários, entre outras. A técnica pode ser usada com todas as idades, desde crianças até idosos.
São dois tipos: a Terapia Assistida por Animais (TAA) e a Atividade Assistida por Animais (AAA). Na primeira, as sessões são monitoradas por profissionais como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psiquiatras, psicólogos, entre outros. São os especialistas que decidem em quais momentos o cão vai contribuir. Já a AAA promove o contato direto do animal com o paciente com um intuito pré-estabelecido: promover entretenimento. Pode haver, ainda, uma associação entre os dois tipos.
O foco são, principalmente, hospitais, lares de idosos e escolas para crianças especiais. Em Franca, docentes do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade de Franca (Unifran) criaram, há um ano, um projeto de Cãoterapia, que tem o apoio de Adoniran Thomaz, conhecido como Dino Adestrador.
Segundo Fernanda Gosuen Gonçalves Dias, médica veterinária, professora na universidade e uma das integrantes do grupo, o intuito é simples: ajudar, de maneira beneficente, a comunidade francana. O nome do projeto não deixa dúvidas: “Pelos Outros” é a única iniciativa de Cãoterapia da cidade. Além de marcar presença em asilos, creches e escolas, faz palestras e doações de produtos de higiene pessoal e alimentos não perecíveis aos atendidos. Uma visita é agendada a cada mês, com duração de duas horas.
Alegria
A TAA e a AAA podem ser realizadas com outros tipos de animais. Mas os cães são os mais comuns. No caso de Franca, seis auxiliam o projeto. Quando eles chegam, a descontração toma conta. O resultado é uma melhora do estado físico, emocional, cognitivo e social, tanto que quem recebe os cuidados quanto dos profissionais envolvidos. Junto com os cachorros, vão grupos de cantores e dançarinos, para que a alegria seja completa.
“O trabalho vai da terapia física ao psicológico”, afirma Dino. Segundo ele, andar com idosos por pistas pré-montadas e acariciar os cães são alguns dos exercícios propostos. Explica que a Cãoterapia não é apenas levar os animais até um determinado local. Toda uma série de procedimentos precisa ser obedecida, como verificar os níveis de estresse dos cachorros e saber se eles lidam bem com pessoas, barulhos e diversos tipos de carinho.
Os cães passam, também, por tratamentos de saúde. Precisam estar com a vacinação em dia, vermifugados e, antes das visitas, tomam banho e são submetidos a higiene bucal. Dino revela que houve casos de instituições que chegaram a recusar os serviços da Cãoterapia por desconhecerem esses preparativos, que são rigorosos.
Por enquanto, o “Pelos Outros” frequenta dois lares de idosos de Franca, o Vovó Ofélia e o Eurípedes Barsanulfo, bem como várias escolas. Neste segundo semestre de 2018, o trabalho deve começar no Hospital do Câncer da cidade.
Recuperação
Mateus Souza Serafim, que tem 17 anos, conheceu a Cãoterapia na escola, ainda na infância. Mas não chegou a pensar que um dia precisaria dela. Em 16 de janeiro de 2008, sofreu um acidente grave. Caiu de cabeça num córrego. Quebrou cinco costelas, trincou a quinta vértebra, perfurou um pulmão e teve politraumatismo craniano. Não movimentava o lado esquerdo do corpo.
Começou a fazer terapias, entre elas a Cãoterapia. Afirma que o contato com os cães ajudou tanto na recuperação física quanto na autoestima. No início, os exercícios eram simples, como jogar uma bolinha para a cadela Femina, para que ela trouxesse de volta. Com o passar do tempo, as atividades evoluíram, até o dia em que conseguiu colocar a coleira na amiga e ela correu com ele. O adolescente percebeu que Femina havia sido uma das grandes responsáveis na recuperação.
Equipe
Além de Fernanda Gosuen e Dino, compõem o projeto os médicos veterinários e docentes da Universidade de Franca Lucas Freitas Pereira, Cristiane dos Santos Honsho Dias e Daniel Kan Honsho, além de estudantes de Medicina Veterinária e voluntários.
Durante o ano, eles se envolvem em vários eventos na própria instituição para a arrecadação dos produtos que são doados nas visitas.
Pesquisa mostra que cães auxiliam crianças com autismo
Pesquisadores de algumas das principais instituições acadêmicas norte-americanas estão investigando, por meio de bolsas de estudo concedidas por uma parceria público-privada entre o Instituto Nacional de Saúde (NIH) e o Centro de Nutrição e Bem-estar Waltham, da Mars Petcare, o impacto que a Terapia Assistida por Animais (TAA) tem em pessoas necessidades especiais.
Segundo a Mars, a parceria já produziu uma série de pesquisas, que demonstram que os benefícios são animadores em crianças com autismo e outras deficiências. “Os estudos evidenciam que a interação com pets não é prejudicial e, com os resultados, poderemos quantificar os benefícios”, diz o chefe do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento Infantil do NIH, James Griffin.
A interação ajudaria a controlar os sintomas mais difíceis do autismo, como a dificuldade de interação social, a ansiedade e o isolamento. Os pesquisadores dizem que estratégias para estimular melhoras nesses aspectos são extremamente necessárias. Isso justifica o investimento nos estudos, já que os animais demonstram um grande potencial terapêutico.
“Estamos, agora, em um momento extremamente importante para aprofundar a base de evidências em torno das Intervenções Assistidas por Animais em pessoas com necessidades especiais e populações em risco”, explica Layla Esposito, Diretora de Programas do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano do NIH. “Esses estudos ajudarão a determinar quais intervenções são eficazes para quem e em que condições. Espera-se que os resultados futuros tenham um impacto significativo na prática clínica e no futuro da TAA”.