Longa estrada
“Infelizmente, o álcool me deu uma das coisas mais tristes que o ser humano pode ter: a solidão”, afirma Osvaldo
Moara Ribeiro
Foto acima: Políticas sociais, quando existem, não conseguem dar conta do alto número de pessoas sem lar (Banco de imagens)
Segundo a Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), o indivíduo em situação de rua se caracteriza pela condição de pobreza total, bem como por ligações familiares e afetivas interrompidas ou fragilizadas e falta de moradia regular. Os principais fatores que contribuem para uma pessoa morar na rua são: a perda de parentes, desemprego, violência, alcoolismo, saúde mental vulnerável, uso de drogas, entre outros.
“Gostaria de estar em casa com a minha família, principalmente quando chega o Natal. Infelizmente, o álcool me deu uma das coisas mais tristes que o ser humano pode ter: a solidão”, diz Osvaldo Nascimento Cruz, de 52 anos. Ele nasceu em Belo Horizonte e hoje vive pelas ruas de Franca.
Existem programas sociais, tanto municipais quanto estaduais, para regularizar a condição de pessoas como Osvaldo Cruz. Essas políticas, geralmente, buscam reunir essas pessoas e propor trabalhos conjuntos. Dessa forma, um auxilia o outro. Entretanto, ainda não são suficientes devido ao alto número de pessoas sem lar. A assistência social municipal despende a maior parte de seus recursos com medidas reparadoras, como a entrega de cobertores e alimentos, além da manutenção de alojamentos, como albergues. Não existe um fundo para a promoção de ações preventivas ou que garantam que a pessoa retirada da condição de rua não retorne mais para os espaços públicos.
A Secretaria Nacional de Assistência Social também é responsável por pensar e executar planos de ressocialização e reintegração dessas pessoas à sociedade. Com essa finalidade, o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, “Centro POP”, como ficou conhecido, foi implantado na cidade. O local, além de abrigar moradores em condição de rua de forma segura, representa um espaço para o convívio grupal, social e para o desenvolvimento de relações de solidariedade, afetividade e respeito.
No entanto, com pouco investimento do poder público, medidas como as desemprenhadas no Centro POP não alcançam todo o público e perdem efetividade. Hugo Ferreira Miguel, de 18 anos, abandonou a casa onde vivia com seus pais. “Viver na rua não é o que eu quero, mas não tive opções. Foi a única alternativa disponível. O dinheiro que eu ganho acaba sendo mais do que eu tinha quando ficava em casa e desempregado, como ainda estou. Prefiro pedir esmola a precisar roubar.”
O perfil do morador em situação de rua
No país todo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estima que mais de 100 mil pessoas estão nas ruas. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome realizou, em 2009 – portanto, há quase uma década – o último levantamento com moradores em situação de rua, em 71 cidades do Brasil onde existem as maiores concentrações de pessoas desabrigadas ou fora de casa.
A pesquisa apontou que, a maioria é de homens (82%) com idade entre 25 e 44 anos. O estudo demonstrou, ainda, que a maior parte nunca estudou ou concluiu o ensino fundamental (63%). Quanto à cor e etnia, cerca de 39,1% eram pardos, 29,5% negros e 27,9% brancos. O restante, composto por indígenas e asiáticos.
Entre as cidades com os maiores índices de pessoas em situação de rua, estavam: Rio de Janeiro (4.585 pessoas); Salvador (3.289); Curitiba (2.776); Brasília (1.734) e Fortaleza (1.701). O primeiro município do estado de São Paulo a aparecer na lista era São José dos Campos (1.633), seguido por Campinas (1.027) e Santos (713). Em Franca, atualmente, segundo a prefeitura, cerca de 800 pessoas vivem nas ruas. Em 2009, a cidade aparecia na pesquisa com 78 moradores nessa condição.