Coração forte
Universidade de Franca (Unifran) pesquisa o uso da vitamina Ômega 3 para diminuir efeitos cardíacos nocivos da quimioterapia em cachorros
Gabriela Sturaro Junqueira
Foto acima: Cápsulas contendo Ômega 3, vitamina em forma de óleo (Banco de imagens)
A Lylyka, cachorrinha da professora Tatiana dos Reis, chegou a vomitar a noite inteira devido à quimioterapia. Com apenas dois anos, ela, que havia acabado de ser adotada, começou o tratamento de um tumor venéreo na Unesp, em Jaboticabal, em 2009. Após as sessões, ela perdia totalmente o apetite, ficava muito fraca e alguns pelos caíam. Eram os efeitos colaterais da aplicação dos medicamentos.
Segundo Tatiana, a luta era para diminuir o tamanho do tumor. A quimioterapia era feita uma vez por mês. Numa das situações, a Lylyka teve que esperar mais tempo, porque ainda não estava bem para receber uma nova dose. “No fim, deu certo. Depois da quimio, foi feita uma cirurgia para a retirada do tumor e ela se recuperou”, afirma a professora.
A longo prazo, a quimioterapia pode provocar impactos no coração dos cães. Para tentar reduzir os efeitos adversos, a médica veterinária Jéssica Barros, aluna de mestrado em Ciência Animal na Universidade de Franca (Unifran), está desenvolvendo uma pesquisa que testa o uso do Ômega 3, um conjunto de gorduras saudáveis que não é produzido pelo organismo, mas que pode ser consumido por meio de cápsulas e alimentos. As principais fontes naturais dessa vitamina, em forma de óleo, são os peixes marinhos de águas profundas, como salmão, atum e outros, processados como bacalhau.
A pesquisa é realizada nos laboratórios do Hospital Veterinário da faculdade. A administração do suplemento é realizada diariamente e os exames para acompanhamento, a cada 15 dias.
Segundo a veterinária, é esperado que os pacientes suplementados apresentem menores efeitos colaterais com o uso dos quimioterápicos. “Com o uso contínuo do óleo por 30 dias, com a concentração máxima do suplemento no corpo, em teoria, seus benefícios durante o tratamento já devem ser notados, devido à minimização do estresse oxidativo, uma reação nociva às células saudáveis do organismo. Espera-se que a vitamina tenha uma ação antioxidante, evitando os efeitos nocivos da quimioterapia no coração”.
A adequação das doses para o tratamento deve ser feita para cada tipo de indicação, variando, em média, de 1 a 2 gramas por dia.
Entenda
Nem todos os cânceres podem ser tratados com quimioterapia. Toda vez em que ela é usada, o protocolo clínico dependerá da malignidade do tumor. Pode ser feita semanalmente, uma vez por mês ou a cada 21 dias.
Luciana de Simone Sfrizo, veterinária residente na Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais da Unifran, afirma que, antes de realizar a sessão de quimio, é obrigatório fazer o hemograma – exame de sangue que detecta o nível de células de defesa do organismo. “Essas células precisam estar no limite dos parâmetros fisiológicos para que o tratamento quimioterápico possa ser executado. A quimioterapia não é feita se as células estiverem abaixo do limite inferior. Se o resultado do hemograma for bom, o veterinário inicia a quimioterapia no animal”.
Isso acontece porque o quimioterápico não age somente nas células do câncer. Atua no corpo inteiro, inibindo, também, as de defesa. Com isso, o animal fica com a imunidade baixa, propenso a contrair infecções bacterianas, fúngicas ou virais.
Fornecer uma nutrição de qualidade durante os estágios iniciais do tumor pode contribuir de forma significativa para o tratamento, não só para conter seus efeitos colaterais como para reduzir o caráter maligno da doença.