“Complexo ser técnico”
Com nove finais e cinco títulos pelo Franca Basquete, Helinho, novo auxiliar técnico da Seleção Brasileira, faz balanço da carreira
João Pedro Pimenta Kikuichi
Foto acima: Carreira como treinador começou em 2016, pelo Franca (Marcos Limonti/SFB)
Hélio Rubens Garcia Filho, o Helinho, de 46 anos, é o novo auxiliar técnico da Seleção Brasileira. Ele foi anunciado em setembro, para trabalhar ao lado do treinador Gustavo Conti.
Com mais de 25 anos dedicados à modalidade, uma herança da família – patrimônio não só do basquete francano como nacional –, ele conquistou doze títulos como jogador: quatro por Franca, quatro pelo Uberlândia, dois pelo Vasco da Gama e dois pela seleção.
Já como treinador, cuja carreira começou em 2016 no próprio Franca, onde está até hoje, foram cinco títulos em cinco temporadas: três Campeonatos Paulistas seguidos, um Sul-Americano e uma Copa Super 8. Ele soma, ainda, mais quatro finais.
Nesta conversa, Helinho destaca como foi a transição de jogador para treinador e conta um pouco das expectativas, com a seleção e com o Franca.
Qual foi sua reação ao ser anunciado como auxiliar da Seleção Brasileira e o quão gratificante isso é pra sua carreira?
Fiquei muito feliz, porque é um reconhecimento de um trabalho que vem sendo feito. Você, quando tem esse reconhecimento, naturalmente se motiva, ganha ainda mais vontade de executar da melhor forma possível o seu trabalho. Então, fiquei realmente muito feliz, orgulhoso e motivado pra seguir trabalhando cada vez mais.
Como esse novo cargo na seleção pode ajudar no seu desenvolvimento como técnico?
Acredito que agrega muito, em termos de intercâmbio, em termos de troca de conhecimento, de experiência. Acho que é uma oportunidade ímpar, que qualquer treinador gostaria de ter e estou muito feliz por essa oportunidade. E também pra dar a minha parcela de contribuição na Seleção Brasileira.
Qual a sua principal referência de treinador hoje?
Gosto muito do Steve Kerr. Tive a oportunidade de passar 20 dias lá [nos Estados Unidos]. É um cara que estou sempre olhando os jogos com mais atenção, vendo as coisas que tem sido feitas lá. Outro cara que gosto é o Gregg Popovich – que até o Steve Kerr é um discípulo dele –, outro que zela pelos conceitos modernos do jogo, pelo desprendimento com agressividade. Enfim, acredito que são esses dois que gosto bastante. E, na Europa, hoje gosto muito de ver o time do Barcelona, comandado pelo Šarūnas Jasikevičius, que é um cara que jogou na época em que joguei pela Lituânia. Nós tivemos a oportunidade de jogar contra. É um cara que gosto muito de ver, o time do Barcelona e os conceitos dele.
Quais foram as maiores dificuldades que encontrou quando começou como técnico?
Em relação a essa mudança de jogador pra técnico, pra mim foi tranquilo, porque eu já estava no dia a dia sempre como jogador. Claro que busquei ganhar conhecimento. Fui pro Golden State Warriors, passei a estudar um pouco mais, implementar algumas coisas que acredito que foram importantes pra mim nesse começo. Mas a principal coisa, que eu nem falo que foi dificuldade, mas foi muito mais complexo, é você ter que ser a referência, lidar com 15 jogadores, que é plataforma em que trabalho, pensar em todos, no bem-estar de todos, naquilo que é importante pro grupo e deixar isso bem claro. Pra mim, coisas que foram importantes: deixas as regras claras pros jogadores, fazê-los entender que eles tinham que trabalhar com ética e moral pensando num bem comum e, dentro dos conceitos que aprendi, consegui implementar. O primeiro ano foi muito produtivo, porque consegui implementar de forma rápida isso com os atletas que vieram.
Quais são as principais diferenças entre ser jogador e técnico?
Foi isso, você tem que estar preocupado, tem que estar atento ao grupo. Como jogador, claro que você está preocupado em fazer o melhor, mas, como técnico, tem que estar focado, não só na programação dos treinos, no planejamento, como também na execução, na cobrança com a intensidade de cada um. Então, é muito mais complexo. Enquanto você é jogador, está preocupado ali com você, em fazer o seu máximo, aquilo que que está sendo pedido. Mas, como técnico, tem que estar preocupado com muito mais coisas, muito mais fatores, além daqueles que você se preocupa como jogador também.
Nesse ano, o Franca chegou a mais uma final no Paulista sob o seu comando, mas acabou perdendo. O que pretende no NBB (Novo Basquete Brasil)?
Um dos pontos pra gente melhorar, cada vez mais, é aumentar o nosso volume de jogo e, para isso, precisamos de duas coisas importantíssimas: diminuir o número de perdas de bola e aumentar o nosso percentual no rebote de ataque. São duas coisas que nos dão um volume maior de jogo. Naturalmente, nesse volume, a nossa equipe produz mais.
Com você no comando, foram nove finais e cinco títulos em cinco temporadas. Um aproveitamento sensacional, mas, mesmo assim, alguns pedem pra você sair do cargo. Qual sua opinião sobre isso?
Me sinto um cara privilegiado nesses cinco anos e meio. Ter chegado a nove finais, cinco títulos, é uma coisa que não é fácil de se conquistar. Mas enxergo também que sempre vai ter uma minoria contestando A, B ou C. O meu grande foco está no trabalho e em procurar fazer sempre o melhor, dentro daquilo que acredito.
Pra finalizar, quais são as suas principais metas para atingir como técnico?
A minha meta é passar os conceitos, a forma de entendimento de basquete, pros jogadores que eu tiver a oportunidade de trabalhar no meu clube, no caso o Sesi Franca Basquete. É dar a minha parcela de contribuição para que o Brasil possa aumentar o número de praticantes, massificando. Possa ter um trabalho na seleção, como a gente tem aqui no Sesi Franca Basquete, de unidade de planejamento, crescimento de todas as categorias, juntamente com os outros técnicos que estão trabalhando na Seleção Brasileira. De médio prazo, aumentar cada vez mais o intercâmbio com outros técnicos, com outras equipes, dentro e fora do país. Creio que, quanto mais você aumenta o intercâmbio, maior o seu conhecimento. Então, vou estar sempre em busca de mais conhecimento, trabalhando com os pés no chão. Essas são as minhas principais metas.