Atos que salvam: a importância da capacitação para evitar tragédias com crianças e idosos
Daniela Marcelino, mestre e doutoranda em Promoção da Saúde pela UNIFRAN, realizou pesquisa que busca capacitar e avaliar a eficácia de um processo de capacitação em profissionais que trabalham com crianças e idosos.
No início de 2024, a notícia da morte de uma criança de apenas 9 anos, por engasgamento, chocou Franca e região. Filipe Henrique da Silva dos Santos se engasgou enquanto comia um pedaço de pão, na noite do dia 28 de fevereiro. O corpo de bombeiros prestou os primeiros socorros e encaminhou o garoto até uma UPA próxima a sua casa. Infelizmente o garoto não resistiu a duas paradas cardíacas. Filipe possuía comorbidades como diabetes, hipertensão e epilepsia. Apesar disso, não se há informações sobre a relação dessas doenças com o falecimento da criança.
Segundo uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, exibida no dia 03/03/2024, ao menos 2.000 pessoas morreram vítimas de engasgamento em 2023. Desse número, mais da metade das vítimas (1.125) tinham 65 anos ou mais. Ainda sobre o dado, cerca de 319 dos casos fatais foram notificados em crianças de até 4 anos. As informações fornecidas são de acordo de com os dados preliminares do Ministério da Saúde.
Os números comprovam que as duas vítimas mais corriqueiras desses acidentes são crianças e idosos. Os motivos listados são diversos. No idoso, é de conhecimento médico que, o envelhecimento causa perda de massa muscular, consequentemente afetando o sistema de deglutição dos alimentos. Já nas crianças, o motivo mais corriqueiro é devido ao tamanho de suas vias aéreas superiores, que ainda são pequenas. Além, também, do fator cognitivo que, ainda em evolução, pode não perceber perigo em direcionar determinados objetos a boca.
É consenso entre especialistas que, um dos fatores fundamentais para salvar uma vida de engasgamento está na eficiência e urgência de um trabalho de primeiros socorros. Entretanto, é sabido que parte dos acompanhantes e cuidadores de crianças e idosos podem não ter acesso a uma prática de primeiros socorros eficaz, o que resulta, em muitos casos, no óbito da vítima.
Foi pensando nisso que a fisioterapeuta, mestre e doutoranda em Promoção de Saúde da UNIFRAN, Daniela Marcelino, realizou uma pesquisa voltada a capacitação de primeiros socorros a profissionais que estão inseridos no cuidado de crianças e idosos. Com auxílio de alunos da iniciação cientifica da Universidade de Franca e orientação da Dra Lilian Cristina Gomes do Nascimento, a pesquisa nasceu e foi pautada a partir do questionamento:
“Qual é o impacto do treinamento por simulação na melhoria das habilidades de ressuscitação cardiopulmonar em profissionais de saúde ou outros grupos de interesse?”
Capacitar e pesquisar
Realizada em 2023, a pesquisa de doutorado de Daniela Marcelino contou com a colaboração dos alunos de fisioterapia da UNIFRAN que participavam do projeto de iniciação cientifica. Na primeira etapa, que aconteceu no laboratório de simulação da FACEF, o treinamento contou com 36 funcionários. Estiveram presentes para os ensinamentos práticos a orientadora, Dra Lilian Cristina Gomes do Nascimento, acompanhada do co-orientador, Dr Eduardo Guerra Barbosa Sandoval, mestre em Promoção de Saúde e cirurgião do aparelho digestivo. O treinamento contou com práticas de desengasgo, massagem cardiorrespiratória e cardíaca e outras envolvidas no campo de primeiros socorros. Após a primeira etapa, era hora de transformar a ideia em ação.
Duas instituições foram convidadas a participar da pesquisa: a Casa de longa permanência São Camilo de Lellis, que possui um número significativo de idosos acolhidos da situação de rua, e a Creche Escola Florescer, instituição voltada a crianças da primeira e segunda infância. Ao todo, mais de 40 profissionais participaram da capacitação.
Ambos os treinamentos aconteceram no laboratório de simulação da FACEF. Tendo sido em julho e setembro a capacitação dos profissionais da São Camilo, e em setembro e outubro com os profissionais da Florescer. Cada instituição teve direito a dois dias de ensinamentos práticos. Além dos envolvidos na produção da pesquisa (Daniela, Lilian e Sandoval), cada dia contou também com ao menos 4 voluntários preparados, vindos da iniciação cientifica. Após a implementação do conhecimento prático, cada profissional foi submetido a questionários, no dia da capacitação e também em um período após, como conta a fisioterapeuta e doutoranda Daniela Marcelino “Ao todo, no processo completo da capacitação, utilizamos o questionário sociodemográfico e também o questionário de primeiros socorros da American Heart Association”. A terapeuta e doutoranda também pontua que além dos questionários, outras provas foram passadas aos profissionais “Além dos questionários, foi passado a eles algumas provas sobre o uso de equipamentos de primeiros socorros. Na questão do desengasgo, um tópico de muita ênfase dos nossos testes era ter a certeza que o profissional sabe fazer a avaliação quando um paciente está com obstrução no aparelho digestivo causada por um corpo estranho e coisas relacionadas. Depois, realizamos então uma atividade pratica, para reforçar o aprendizado e avaliar a eficiência do ensinamento. Por último, foi passado também um questionário para saber se o profissional tinha então a confiança para realizar um trabalho de primeiros socorros.”
Daniela Marcelino finaliza contando sobre o processo 3 meses após a capacitação “Passados 3 meses da capacitação, voltamos a reunir os profissionais das instituições. Nessa etapa, a intenção era avaliar os efeitos do conhecimento retido pelos profissionais 90 dias depois da capacitação pratica e teórica. Diferente do dia da capacitação, no retorno, foram aplicados apenas os questionários a eles. Até mesmo para medir o nível de aprendizado após esse período”
Atos que salvam – por Dra Lilian Cristina Gomes do Nascimento
Quando você se depara com uma situação de engasgo em um ente querido, seja uma criança ou um idoso, é importante agir rapidamente, mas com calma. Aqui estão algumas medidas que você pode tomar, segundo a Dra Lilian Gomes, fisioterapeuta, docente e doutora em Promoção de Saúde da UNIFRAN:
Como avaliar a gravidade da situação?
Determine se a pessoa está realmente engasgada. Observe sinais de dificuldade para respirar, tosse fraca ou ausente e expressão de pânico no rosto.
O que fazer após identificar a situação de engasgo?
Se a pessoa estiver tossindo, encoraje-a a continuar tossindo para tentar expelir o objeto obstrutivo. A tosse é o mecanismo natural do corpo para tentar desobstruir as vias aéreas.
Quais técnicas básicas podem ajudar nesse momento?
Se a pessoa não estiver conseguindo tossir e estiver com dificuldade para respirar, é hora de agir. Para adultos e crianças maiores de um ano, a manobra de Heimlich é apropriada. Para crianças menores de um ano, você deve realizar compressões abdominais. Siga as instruções específicas para cada faixa etária para evitar lesões.
* A manobra de Heimlich (tração abdominal) é um procedimento rápido de primeiros socorros para tratar asfixia por obstrução das vias respiratórias superiores por corpo estranho.
E se as tentativas não forem bem-sucedidas?
Se a pessoa estiver engasgada e não conseguir expelir o objeto obstrutivo, ou se perder a consciência, chame imediatamente por ajuda médica. Enquanto aguarda, continue tentando desobstruir as vias aéreas.
O socorro está demorando e o estado do paciente é crítico, o que faço?
Se a pessoa perder a consciência, inicie os procedimentos de suporte básico de vida, incluindo a RCP (ressuscitação cardiopulmonar ), se necessário. Siga as orientações de um profissional de saúde ou de um operador de emergência por telefone.
UFA! O paciente está salvo. Hora de relaxar, certo?
Não! Mesmo após a remoção do objeto obstrutivo, é importante continuar monitorando a pessoa para garantir que ela esteja respirando normalmente e não apresente sinais de complicações.
Para encerrar, a Dra Lilian Cristina Gomes ainda destaca a importância de fazer o possível para o desespero não tomar conta nesses momentos: “Lembre-se sempre de manter a calma e agir rapidamente, mas com cuidado, ao lidar com uma situação de engasgo em um ente querido. Aprender as técnicas corretas de primeiros socorros pode ser extremamente útil nessas situações.”