Música pra alma
A musicoterapia como tratamento para a depressão ganha espaço na região de Franca e no Sul de Minas Gerais
Maria Júlia Tazinaffo Blanco
Foto acima: Sala onde a musicoterapeuta Alessandra Rizzo faz seu trabalho (Acervo pessoal)
A depressão não é um problema passageiro. É uma doença que se desenvolve por conta de um desequilíbrio no cérebro e pode surgir em qualquer pessoa, independente da vida que ela leva. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais depressivo da América Latina. Estima-se que 5,8% da população nacional serão afetados por ela até 2020.
É, também, a segunda causa de morte por problemas de saúde no mundo, perdendo apenas para os problemas cardíacos. Entre as formas de tratamento, uma não é tão conhecida, mas começa a ampliar sua frequência nos consultórios: a música, que tem dividido espaço com os vários métodos aplicados pelos psicólogos no tratamento, como recomendar aos pacientes que dividam as dificuldades cotidianas por meio da conversa, ler um bom livro ou alimentar sonhos.
Segundo profissionais, a música ativa o lado emocional, não só do paciente, mas nas pessoas ao redor. Ela cria emoções positivas, o que justamente se procura para um depressivo. “No caso de pessoas com depressão, é através muitas vezes da música que elas conseguem sua autoestima de volta”, expõe a psicóloga Luciane Ceribelli Blanco, de Uberaba-MG.
A música pode ser, inclusive, associada com outros métodos e não só contra a depressão, mas para cuidados com idosos, autistas, pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), entre outros.
A musicoterapeuta Alessandra Rizzo, de Ribeirão Preto-SP, que trabalha na área há 20 anos, afirma que as pessoas estão, cada vez mais, preocupadas com a sobrevivência e em acompanhar a velocidade com que os acontecimentos ocorrem. Isso faz com que haja menos contato com a família e com os próprios afetos e emoções. A musicoterapia tem, nesse contexto, o intuito de guiar os pacientes para uma nova rotina de vida, permitindo a manifestação de sentimentos e ajudando a resgatar as origens.
Luciane complementa: “A música, de certa forma, desperta o depressivo para a vida”.
Projetos
O uso da musicoterapia nos tratamentos ainda é pouco debatida nas regiões de Franca e Ribeirão Preto. Quase não existem projetos na área. Exceto no Hospital das Clínicas de Ribeirão, que tem um programa-piloto, aplicado em portadores do vírus HIV e pessoas em tratamento de câncer.
Existem, também, aplicativos, como o Relax Melodies, que tem sido utilizado, principalmente, por quem tem insônia decorrente da depressão. Ele disponibiliza diversos tipos de músicas com efeito tranquilizante, que podem ser baixadas gratuitamente por Android e iOS. No entanto, as fontes ouvidas alertam que não se recorra a ele por conta própria. O ideal é ter sempre um acompanhamento profissional.
Autoestima
Um dos pacientes de Luciane, que prefere não ter a identidade revelada, trabalhava em serviço braçal e estudava música. Iniciou um quadro depressivo devido à história familiar desajustada, que o remetia a traumas da infância. Ele tocava saxofone, mas desistiu de continuar e passou a fumar maconha. Sofreu agressões, foi roubado e teve o instrumento quebrado. As pancadas na cabeça resultaram em traumatismo craniano.
Ele não conseguia se reerguer. Até que a avó paterna assumiu um compromisso de trazer o neto de volta a vida. Buscou ajuda em tratamentos psicológicos e psiquiátricos e, com ajuda da própria música, voltou a estudar. Além do instrumento, faz canto e participa de um coral.
Ao sair da última sessão antes da publicação desta reportagem, com os olhos marejados, ele afirmou ter conseguido “quatro notas no saxofone”. E, com sorriso largo, disse estar reescrevendo sua história.