Voando alto
Drones “invadem” propriedades rurais: agropecuária já responde por 40% do mercado nacional desse tipo de equipamento
Carolina Vaz
Foto acima: Equipamentos podem incrementar produtividade em 15% a 20% (Banco de imagens)
Que a agricultura mudou e se tornou uma das principais fontes de riqueza do Brasil, todos sabemos. Mas os investimentos que o agronegócio continua fazendo podem preparar o País para voos mais altos. Literalmente. Isso porque, com o tempo, houve a necessidade de introduzir na lavoura equipamentos com tecnologia de ponta para facilitar a gestão e a obtenção de resultados.
Os drones vieram pra ficar. Essas pequenas aeronaves que, inicialmente, eram usadas exclusivamente para finalidades militares, atualmente são aplicadas em várias cadeias produtivas. E até em eventos ligados ao campo.
Para pilotá-los, é necessário estar cadastrado e legalizado na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). E, com eles, os produtores visam dois objetivos principais: produtividade e custo. Os equipamentos captam imagens que permitem conferir, por exemplo, quais áreas estão infestadas com doenças ou pragas, além de analisar e demarcar os pontos corretos de plantio e monitorar o desenvolvimento da safra, acompanhando, por meio de uma sequência cronológica de imagens, o desenvolvimento de cada cultura.
Outra vantagem é que os drones trouxeram reduções de prejuízos evitando o furto de gado, máquinas e sacas de grãos. Capazes de vigiar as divisas das fazendas, evitam, ainda, grandes deslocamentos de funcionários, que antes precisavam percorrer de uma ponta a outra das propriedades.
Mão de obra
De acordo com a PwC, uma das maiores empresas do mundo em prestação de serviço em auditoria e consultoria, o agronegócio já representa 25% do faturamento do mercado de drones do planeta. Se for considerado apenas o Brasil, o número sobre para 40%. E estimativas apontam que os VANTs (Veículos Aérea Não Tripulado), outra forma como são conhecidos os drones, ajudam a aumentar a produtividade no campo entre 15% e 20%.
Em Jeriquara, no interior de São Paulo, o agricultor José Carlos Siqueira Neto, que produz batata, afirma ter diminuído os gastos com mão de obra. Eles tem drones para pulverizar a área de produção. “Eu investi um total de R$ 38 mil em drones. Meu retorno melhorou muito, em comparação com todos os outros anos como produtor rural. A facilidade e o rendimento que estas máquinas dão são fantásticos e me ajudam a negociar vendas e pôr meu produto no mercado. Há um ano, tenho a certeza que consigo colocar nas prateleiras dos supermercados um produto de qualidade para quem compra”.
Os drones podem ser usados para diversas outras finalidades, como vigiar o gado e apurar as dimensões de uma fazenda. Em áreas de desmatamento, servem para visualizar o que acontece em distâncias a que o olho humano não chega. Com isso, ajudam a evitar multas.
Quanto custam?
Os preços dos equipamentos usados na zona rural costumam variar entre R$ 10 mil e R$ 30 mil. Durante a Agrishow, realizada de 30 de abril a 4 de maio em Ribeirão Preto, SP, eles eram muitos e de variados modelos. E foi justamente na feira que apareceu um superdrone para pulverização, que deve chegar ao mercado, entre o final de 2019 e o início de 2020, por R$ 400 mil.
Ele tem cinco metros de diâmetro, funciona a gasolina ou etanol e é capaz de operar à noite, enquanto os aviões agrícolas só pulverizam durante o dia. Dezoito pessoas trabalharam no seu desenvolvimento. O equipamento tem dois motores centrais e dois externos, que direcionam e sustentam a aeronave. E também baterias, que são acionadas em caso de falhas nos motores.
Tecnologia que demonstra que os drones não só vieram pra ficar. Mas para revolucionar a produção de alimentos.
Outras áreas
De acordo com o piloto profissional de drones Kelvin Campos, a zona rural é apenas um das funcionalidades dos drones. Em outras áreas, eles também devem ampliar sua participação nos próximos anos, como a construção civil. Dentre as várias finalidades, é possível adquirir modelos que variam de cem a milhares de dólares, com autonomia de cinco minutos até oito horas ininterruptas de filmagens.
“Os drones podem ser pilotados remotamente por um, dois e às vezes três ou quatro pessoas, dependendo da situação em que são usados. Todos os comandos são passados pelo rádio, que chamamos de rádio-controle. Os modelos mais sofisticados podem filmar um longa-metragem, entretenimento ou até uma recreação”, explica ele.
A advogada Lígia Freitas faz, no entanto, ressalvas quanto à exposição de pessoas. “Ao utilizar um drone, você tem que ter uma distância de, no mínimo, 30 metros na horizontal ou vertical, caso a pessoa não autorize a exibição da imagem dela. Se você estiver uma distância menor e ela achar que sofreu danos, pode questionar judicialmente”.