Espírito do tempo

Cafezinho especial

Eles estão caindo no gosto dos paulistas, como os habitantes da região da Alta Mogiana, que se destaca no segmento

Pablo Henrique

Foto acima: Cafezal à noite: Alta Mogiana é pioneira na oferta de cafés especiais (Divulgação)

Quem não gosta de um cafezinho, ainda mais se for preparado com afeto e ingredientes selecionados? O café da região da Alta Mogiana é referência nacional e internacional. E não é diferente quando o assunto são cafés especiais. Eles estiveram entre os destaques da 2ª Feira da Alta Mogiana de Café de Qualidade (FAMCAFÉ), realizada em Franca de 23 a 25 de outubro, no Hotel Dan Inn.

Luiz André Vidotti, de 22 anos, mora em Franca e diz gostar muito do café da região. Conheceu os cafés especiais há dois anos, na cafeteria Olinto Café e, desde então, se tornou um ávido consumidor.

Diego Ossi Magazine, de 32 anos, segue a tendência. ”Gosto muito do café especial e, para mim, é um caminho sem volta”. Também de Franca, conheceu os cafés especiais na mesma época que Luiz, em uma apresentação sobre o assunto no local de trabalho. E diz preferir os mais doces e mais suaves. Seu tipo predileto é o Bourbon Amarelo.

Fernanda Maciel, de 59 anos, é uma das mulheres pioneiras no cultivo de café especial da região da Alta Mogiana. Ela diz que a demanda por cafés especiais tem crescido bastante. “Os jovens estão buscando esse café. Eles querem um café diferenciado, um aroma floral, um frutado, um chocolate. As pessoas, de forma geral, já entendem mais de café e buscam o que mais agrada”.

Na companhia do filho, Felipe, Fernanda diz que foco principal é a qualidade (Foto: Divulgação)

Com a ajuda de seu filho, Felipe Maciel Raucci de 37 anos, que é torrador, barista e provador, Fernanda pensa em todo o processo buscando sempre uma melhor qualidade. “A gente está sempre aprimorando as etapas do cultivo, tanto após a colheita quanto antes da colheita, e participando de concursos”.

Ela tem sua própria marca, a “Terra Preta”. Em 2005, ganhou o prêmio de melhor café do Estado de São Paulo e, depois, o de melhor do Brasil. Ela participa da Associação dos Produtores Rurais e da Diretoria do Sindicato Rural, ambos em Pedregulho-SP. Também é associada à AMSC (Alta Mogiana Specialty Coffee Association), associação que busca valorizar a qualidade dos cafés na região da Alta Mogiana e que possui até um selo de precedência. A família da Fernanda está no café há quatro gerações e, segundo ela, nos últimos dez anos, o aumento do mercado de especiais foi vertiginoso.

Segundo Jandir da Cruz Castro Filho, gerente comercial de cafés da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Franca, a Cocapec, várias qualidades da bebida são avaliadas para classificar um café como especial, entre elas cor da torra, fragrância, uniformidade na xícara, doçura, sabor, acidez e equilíbrio. Numa escala que vai até 100, os especiais devem atingir acima de 80 pontos, sendo que o ideal é ficar de 85 para cima.

Fernanda acompanha todas as etapas de produção (Foto: Divulgação)

Mercado

O mercado de cafés especiais na Alta Mogiana vem sendo considerado tão bom que está atraindo a atenção até de quem não está sediado na região. Como é o caso do Café Pinheiro, que tem fábrica em Guapé-MG. Há dez anos trabalhando com cafés, a empresa entrou no ramo de especiais há dois. Seu diretor comercial, Júlio Borges, afirma o foco dos negócios, que atendem diversos municípios da macrorregião de Ribeirão Preto, incluindo Franca, serão os cafés especiais de agora em diante.

“O crescimento desse mercado tem sido exponencial. Os consumidores estão enxergando o café não apenas mais como uma bebida da manhã do dia a dia, mas como experiência. A exemplo dos vinhos, buscam sabores especiais e nós, buscando atender a essa demanda, estamos, cada vez mais, melhorando as características da produção”, afirma Borges.

Por falar em sabores, eles têm sido buscados também pelos consumidores internacionais. “Ontem, eu estava falando com um cliente que foi para a Roma. Ele estava em uma cafeteria. Quando foi ao banheiro, passou perto do estoque de café e reparou que era o café especial da Alta Mogiana”.

A história é contada por José Tadeu de Oliveira Filho, de 35 anos, que mora em Franca, mesma cidade onde tem duas das três lojas de sua cafeteria, a Olinto. Ele e a esposa, Bruna Fernandes Malta, de 36, possuem a cafeteria há sete anos. Há seis, trabalham com cafés especiais. Foi a primeira cafeteria de Franca a fazer isso.

Ele diz que os francanos estão aprendendo a pagar por um café especial. Mas acredita no potencial representado por quem está de passagem pela cidade. As vendas na cafeteria crescem de 30% a 40% ao ano.

No segundo ano da Olinto Café, Oliveira foi procurado por um produtor, que falou sobre os cafés especiais. “A gente, até então, não conhecia. Desde então, começamos com esse trabalho e fomos atrás de nos especializar”. Hoje, eles têm uma boutique dentro de uma das lojas da cafeteria, para vender cafés especiais. “Pensamos em expandir a cafeteria. Então, tivemos a ideia de fazer um lugar calmo, todo climatizado e focado no café especial”, afirma Oliveira.

Hoje, a Olinto trabalha com 32 marcas de cafés especiais da Alta Mogiana, inclusive com a própria. Quando perguntado sobre as diferenças para um café comum, comprado no mercado, ele afirma: ”O gosto muda, o aroma muda, tudo muda. No café especial, você tem uma torra mais clara, você sente o gosto da fruta de verdade e elimina a necessidade do açúcar”. Ele também destaca a questão do preço. “Para o cliente encontrar essas qualidades, precisa ficar atento aos valores, que variam de R$ 80 a 90 o quilo do café especial já torrado.”

Na Olinto, crescimento das vendas de especiais tem sido de 30% a 40% ao ano (Foto: Pablo Henrique)

Segundo Oliveira, há três grandes ondas de consumo do café. “E as pessoas estão discutindo como será a quarta”. Segundo ele, a primeira onda foi a da expansão e do consumo do café; a segunda, a expansão da rede de cafeterias; e a terceira, a grande expansão da qualidade do café.

Questão técnica

“Existem duas espécies de café mais cultivadas e comercializadas no Brasil e no mundo. Elas são a Coffea Arábica e Coffea Canephora”. Assim diz Paula Dulgheroff de 33 anos, dona da cafeteria e também escola “Mundo Café”, localizada em Uberlândia – MG. Lá, Paula tem a cafeteria na frente e uma torrefação no fundo, onde funciona a escola. “A Mundo Café tem tudo. Só não produz café”.

Segundo Paula o Coffea Canephora é o que chamamos de Conilon Robusta. Já o Arábica tem muitas subespécies, e não se deve comparar uma espécie com a outra, pois, entre os Conilons, existem os melhores e os de baixa qualidade. A mesma coisa acontece com os Arábicas.

“Quando falamos de café especial, geralmente estamos falando do café da espécie Arábica, mas também existe o Coffea Canephora Conilon, no Espírito Santo, em Rondônia, onde é feito um trabalho para que ele seja um café especial.”

Paula trabalha há 13 anos com café e confirma uma mudança drástica no consumo. “As pessoas estão procurando entender mais sobre o café. O consumidor e o produtor estão mais preocupados com a qualidade.”

Luiz, Diego, Fernanda e Felipe que o digam.

Crescimento do mercado de cafés especiais tem sido vertiginoso (Foto: Divulgação)