Mudança de vida
A jornalista Keila Barrocal começou como secretária na emissora, e conta como aconteceu o processo de transição para a redação
Marcella Dal Sasso
Foto acima: Keila nos bastidores da EPTV, onde é editora (Acervo pessoal)
Um desafio chamado profissão. Essa parece ser uma pedra no sapato de muitos estudantes do Ensino Médio. A pressão de escolher algo pra fazer o resto da vida costuma confundir a cabeça de quem está prestes a entrar na universidade.
Não se pode, no entanto, generalizar esse comportamento. Não são raros os casos em que é a profissão que nos escolhe e acaba caindo como uma luva para alimentar os nossos sonhos. Apesar de nenhuma profissão ser fácil e nenhuma faculdade ser um glamour, o processo de formação precisa envolver amor, afinidade e saber aproveitar os momentos.
Essa é a opinião da jornalista Keila Barrocal, de Ribeirão Preto, editora na EPTV, afiliada da TV Globo. Prestes a se tornar mãe pela segunda vez, ela lembra que a formação em Jornalismo fez parte de uma transição, já que o início foi como secretária de redação.
Nessa entrevista, ela conta um pouco dessa trajetória e particularidades que podem inspirar os que querem ser jornalistas.
De qual cidade você é?
Sou natural de São Paulo, capital. Nasci e cresci lá.
Como chegou a Ribeirão?
Meu pai se aposentou e quis morar no interior. Veio visitar um amigo em Ribeirão e resolveu comprar uma casa aqui. Viemos todos de mudança.
Você já havia tido contato com o Jornalismo antes de fazer a faculdade?
Quando morava em São Paulo, fiz faculdade de Comunicação Integrada, um curso de dois anos. Sempre me identifiquei com a Comunicação. Já em Ribeirão, fui trabalhar com um assessor de imprensa do setor sucroalcooleiro. Ali, decidi voltar pra faculdade e ele me incentivou a fazer Jornalismo. Dizia que eu tinha perfil de jornalista. Acreditei! (risos)
Como foi a identificação com a Comunicação?
No colégio, minha matéria preferida era Língua Portuguesa. A Comunicação sempre me fascinou. Sou muito comunicativa, expressiva e adoooooro contar histórias… Mas, apesar de ter sido muito falante e já me identificar com a Comunicação, assim que terminei o colégio quis fazer Nutrição, mas logo desisti por não curtir muito a parte de exatas. Quase fiz Direito também. Cheguei a prestar vestibular pra ser advogada. Mas nem comecei… Ainda não tinha certeza, resolvi esperar… Depois, fiz o curso de dois anos de Comunicação Integrada e ali já me identifiquei bastante com a área.
Qual era sua expectativa sobre a faculdade de Jornalismo?
A gente entra na faculdade cheia de expectativas. Só tem algumas partes mais “chatinhas”, mas que precisamos passar. É um processo… E tudo é válido. Qualquer tipo de aprendizado nunca é demais.
As expectativas foram correspondidas ou teve decepção ao longo deste processo?
Eu amei a faculdade e aproveitei cada minuto do curso. Saí muito satisfeita…
Em relação aos estágios, eram obrigatórios?
Na época, o estágio não era obrigatório. Participávamos de atividades extras que contavam como horas para estágio. Eu já trabalhava na EPTV, mas era secretária ainda. Então, pedi à minha gerente pra me deixar ir aos sábados e alguns feriados pra ficar na redação “estagiando”. Mas estágio formal mesmo, não fiz. Porém, tive essa experiência bacana que me ajudou também.
Hoje em dia qual você considera a maior dificuldade de um jornalista se ingressar no mercado de trabalho?
Não posso dizer muito, pois não tive dificuldade. Mas, pelo que ouço dos amigos, quando você acaba de se formar, não te contratam porque não tem experiência. Mas se ninguém der uma chance, o recém-formado nunca vai ter experiência. A minha maior recomendação é que leiam, leiam, leiam de tudo e muito para falar e escrever bem. E sejam curiosos.
Como foi a construção de sua carreira até hoje?
Entrei na EPTV em 2008 como secretária da redação. Tinha matrícula trancada na faculdade, pois, quando comecei o curso, descobri que estava grávida. Acabei trancando o curso no primeiro semestre. Quando fui contratada na EPTV, minha chefa, a gerente de Jornalismo na época, Edith Gonçalves, disse que só iria me contratar se eu prometesse voltar pra faculdade. E assim foi. Entrei na EPTV em junho de 2008, meu filho tinha 8 meses. Em fevereiro 2009, voltei pra faculdade. Enzo estava com apenas 1 ano e 3 meses. Não foi nada fácil. Saía cedo de casa, trabalhava quase 9h na TV, ia direto pra faculdade, voltava pra casa quase meia-noite, porque fazia tudo isso de ônibus, não tinha carro, e ele estava dormindo. Tinha dias que eu não o via… Chorava ao lado do berço, dormia agarradinha com ele, mas sabia que todo o meu esforço seria pra dar um futuro melhor pra ele. Assim, foram os quatro anos… Essa luta, essa correria. No último ano da faculdade, em outubro, o Diretor de Jornalismo do Grupo EPTV, Ciro Porto, me convidou para trabalhar em um departamento novo na redação que seria implantado em janeiro do ano seguinte, 2013. Eu, mais do que depressa, aceitei. A Agência de Notícias do grupo EPTV começou a funcionar e assim iniciou minha carreira. Fui contratada como editora. Era mais um presente de Deus. A recompensa de todo meu esforço…
Você já realizou todos seus sonhos profissionais?
Imagina… Estou cheirando a leite ainda (risos). Tenho muito o que aprender, a conquistar… Mas acredito estar no caminho certo. A edição de texto e imagem me fascina. Quero me aperfeiçoar.
Como chegou à EPTV?
Fui indicada pelo assessor com quem comecei a trabalhar quando cheguei a Ribeirão, aquele que me incentivou a fazer jornalismo, Sérgio Prado, a quem tenho gratidão eterna.
Como foi esse primeiro contato?
Meu primeiro contato foi com a gerente de jornalismo na época, Edith Gonçalves. Ela precisava de uma secretária e, como tinha muito contato comigo, “me pediu” pro Sérgio. A única coisa que ele disse foi: “Se a proposta que você tiver pra Keila Cristina, como costuma me chamar até hoje, só porque eu acho que não combina (risos), der chance de ela crescer profissionalmente, “pode levar”. E ela me levou… (risos). Confesso que nos primeiros dias achei que não fosse dar conta. Edith era brava, agitada e a responsabilidade de cuidar de um departamento inteiro, com quase 100 pessoas, era muito grande. Jornalismo de TV com três jornais diários é muita pressão. Mas, depois de um tempo, aprendi a lidar com o jeitão da Edith. Até hoje, é uma querida minha. Ela saiu da TV, mas guardo Edith em meu coração. Serei eternamente grata a tudo o que me ensinou também.
Por quais setores já passou no Jornalismo, e com qual mais se identificou?
Na verdade, eu pulei uma etapa. Na maioria das vezes, o recém-formado começa a carreira na produção, rádio-escuta, aquela parte de ficar ligando pra polícia, pros hospitais, pros bombeiros, atrás de factuais, mas só tive essa experiência, naquele estágio “voluntário informal” que fiz durante a faculdade, enquanto ainda era secretária. Minha efetivação já foi direto como editora. E Deus não poderia ter reservado nada melhor pra mim… Ah, como me identifiquei! E me identifico até hoje. Trabalhar o texto… Contar a história… Em 2015, surgiu uma oportunidade de fazer vídeo. A princípio era um teste pra ver como me saía… Fui aprovada e agreguei a edição na Agência de Notícias com a apresentação do EPTV Cidade, na parte da manhã. Meses depois, comecei a apresentar os boletins da tarde também… Mil dificuldades. Apesar de ser extrovertida, estar na frente das câmeras dá muito frio na barriga. Fui fazer teatro pra trabalhar mais a parte de improvisação e expressão corporal. Me ajudou muito! Recomendo. Foram dois anos na apresentação do EPTV Cidade. De março de 2015 a março de 2017. Há pouco, recebi um novo desafio na redação. Além de fazer o trabalho de editora, dentro da Agência de Notícias, um departamento que distribui informação para todos os veículos do Grupo EPTV, estou aprendendo a trabalhar na “ilha” de edição também. A partir de agora, ajudo a montar um VT. “Esqueletar” toda a reportagem, passagem, off, sonora, pra depois o editor cobrir com imagens. Continuo produzindo e editando o EPTV Cidade. Só estou fora da apresentação pra ter mais tempo pra me dedicar ao novo aprendizado. E, confesso, foi mais um presente de Deus!
Qual o maior prazer da profissão?
Apesar das notícias ruins, de tragédia, de violência, de injustiça e corrupção, o maior prazer de um jornalista é poder, a cada dia, contar uma história diferente.
E qual a maior dificuldade?
A maior dificuldade é tentar não se “envolver” com a notícia, principalmente aquelas que mexem com o coração da gente. Difícil também é transmitir notícias ruins. Eu gostaria somente de dar notícias boas, caso pudesse, a todo mundo!