Gênios anônimos

Atitude consciente

Após grave acidente, Aurélio Junior, o Lelo, decidiu fazer o bem com projeto social que existe desde 2002

Caíque Araújo

Foto acima: Alimentos arrecadados em evento de rock em 2017: três toneladas em dois dias (Divulgação)

Mais conhecido como Lelo, Aurélio Junior nasceu em Franca/SP, tem 48 anos, é músico autodidata e faz parte do Clube dos Compositores do Brasil (CCB). Também é o idealizador do projeto Atitude Consciente, sem fins lucrativos, fundado em 2002, que realiza e participa de eventos e ações voluntárias para ajudar entidades beneficentes.

Lelo não tem emprego fixo. Atua como freelancer na área gráfica e de edição de vídeos. Concilia o tempo entre o trabalho e o projeto. Segundo ele, a dificuldade de ter carteira assinada se deve a um receio dos empregadores com relação ao voluntariado do qual é adepto.

“Sinceramente, não é muito simples conciliar as atividades cotidianas com as necessidades do projeto. Por conta disso é que estou sem emprego fixo, pois é difícil entenderem ou aceitarem que em, determinados dias, vou sair mais cedo ou chegar mais tarde.”

O projeto começou dez anos depois de um acidente que iria mudar a vida de Lelo. Na época, ele tinha 21 anos. Mesmo tendo passado uma década, a fatalidade foi determinante para a criação do Atitude Consciente.

No acidente, ele perdeu seis dentes, fraturou a mandíbula em dois lugares e o antebraço direito. Tem vários parafusos espalhados pelo corpo. São mais de 15 no total, além de uma prótese dentária. Durante a recuperação, começou a refletir sobre a vida. E repensou várias atitudes e amizades. “Tive muito tempo para pensar. Decidi que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para conscientizar o maior número possível de pessoas.”

Fortalecimento

“O acidente foi um divisor de águas, que me ajudou a fortalecer o caráter e buscar uma forma de agradecer por ter ‘nascido de novo’. Posso dizer que, sem isso, não existiria o projeto.”

Conta que outro fator influenciou. A morte de um amigo, Jeancarlo, que também era baterista e integrava a banda em que Lelo cantava.

Jeancarlo era diabético, perdeu 80% da visão e, por causa do agravamento da doença, precisou passar por um transplante de pâncreas. Não resistiu. Os dois se conheciam há mais de 20 anos e Lelo sempre o admirou por nunca se abater. Apesar do sofrimento, estava sempre de bem com a vida. Antes de falecer, chegou a dar aulas como voluntário no Instituto para Cegos de Franca.

Ação no centro de Franca em 2017; Lelo está na primeira imagem acima (Foto: Divulgação)

Música

O gosto de Lelo pela música vem desde a infância, quando acompanhava o trabalho do pai, que era locutor de rádio. No fim da década de 1970, quando o rock vivia um apogeu, descobriu, na discoteca da rádio, grandes bandas do gênero. Foi, no entanto, alguns anos mais tarde, já na década de 1980, que descobriu o rock nacional e se apaixonou definitivamente pelo estilo. Decidiu ter sua primeira banda.

“Meu pai fazia programas de música sertaneja de raiz. Gostava de me levar para o trabalho, para que eu tivesse contato com aquela realidade. Foi a partir daí que a música foi se tornando cada vez mais essencial na minha vida. Tanto que a primeira banda foi formada quando eu tinha 16 anos.”

Início do projeto

Para ele, a música é importante para unir e mobilizar pessoas em torno de uma causa, como o Atitude Consciente. O começo do projeto, no entanto, foi cercado de desconfiança. Não de Lelo, que nunca duvidou. Mas de pessoas próximas.

O primeiro evento foi em 2003, com a colaboração do Conselho Municipal Antidrogas, que bancou palestras e shows em comemoração ao Dia Mundial da Luta Contra as Drogas.

Lelo lembra que, após um dos shows, recebeu propostas de patrocínio e, ao perceber que pessoas envolvidas estavam com a intenção de obter dividendos políticos, recusou prontamente.

De 2004 a 2012, a participação em outros eventos foi modesta. Muitas vezes, teve que usar dinheiro do próprio bolso. O projeto só engrenou a partir de 2014, quando Lelo criou uma página no Facebook. Ele destaca, porém, que sempre preferiu o diálogo pessoal, o “olho no olho”. Acredita que essa é a forma mais sincera de relacionamento.

Endereço

A página pode ser consultada em: facebook.com/projetoatitudeconsciente.

Na ação de 2017, cortes de cabelo foram oferecidos gratuitamente (Foto: Divulgação)